quarta-feira, 28 de março de 2018

Vivendo como igreja relacional 03

VIVENDO COMO IGREJA RELACIONAL
Escrito por Wayne Jacobsen. Traduzido por Ezequiel Netto
03 - O Espírito de Família. Setembro de 2000.
Não importa o quão independente nós humanos podemos tentar ser, há momentos em que não damos conta e precisamos compartilhar com outros.
Momentos especiais são como estes. Há poucos meses atrás, eu e Sara caminhávamos na praia, assistindo um casal de golfinhos brincar e surfar nas ondas. Não conseguimos deixar de apontá-los para alguns estranhos e ficamos lá compartilhando aquele momento com eles. Isto foi tão inacreditável que eu imagino que contamos isso para quase todas as pessoas que encontramos.
Também experimentamos ter pessoas ao nosso redor quando nos sentimos ameaçados, inseguros ou com necessidade de direção. Na primeira vez que eu e Sara tentamos caminhar por uma trilha para o Lago Walling na reserva florestal de Kaiser, não tínhamos certeza de tudo o que encontraríamos pela frente. Imagine nossa alegria ao encontrar outro grupo de andarilhos descendo a mesma trilha? Pudemos confirmar nossa direção e fomos alertados para uma área pantanosa cheia de mosquitos à nossa frente. Então, aplicamos nosso repelente antes de virarmos o almoço deles.
E algumas coisas eu não gosto de fazer sozinho, como mudanças, pinturas ou reformas. Coloquei nosso armário triplo no segundo andar com a ajuda de amigos ou alguém da família que nos ajudou. Assim como não gosto de fazer isso sozinho, também não gosto de ver pessoas que façam da mesma forma. Compartilhar momentos especiais, informações que ajudem a outros ao longo da caminhada ou recursos que aliviem o fardo sobre os ombros de alguém... eu não posso imaginar uma descrição melhor sobre o que significa ser parte da família de Deus. Por que as coisas nem sempre funcionam de forma tão simples assim?
Saudades da Família.
Talvez você já tenha compartilhado algo especial que Deus te mostrou, somente pra ter alguém que discordasse, ou até mesmo alguém que tentasse rebater com suas próprias descobertas, ou mesmo te convencer de quão equivocado está. Talvez já tenha pedido ajuda só pra ter alguém ignorando seus pedidos, ou te dando uma direção errada, prometendo uma realidade que você jamais vai encontrar. E em nossos dias, a comunhão está pouco relacionada com aliviar a carga uns dos outros e mais com sobrecarregar os outros com demandas e expectativas.
Por isso que vivemos cansados e sobrecarregados, onde muitos crentes se reúnem apenas para assistir uma apresentação perfeita nos cultos; ou quando falam de si mesmos, mostram sempre o seu lado melhor. Estas duas opções nos livram do envolvimento com qualquer pessoa além do nível superficial e nos rouba de uma das mais incríveis facetas de sermos filhos de Deus - viver como parte de uma família maravilhosa.
Os relacionamentos quebrados em nossa família natural nos ferem tão profundamente, mas mesmo em face de tamanha dor, as pessoas ainda têm um insaciável desejo de estar ligadas como família, pois para isto Deus nos criou. Infelizmente, o corpo de Cristo em nossos dias também não está tendo sucesso em encontrar uma vida familiar saudável. Muitos abandonam o corpo de Cristo feridos por causa do desejo frustrado em encontrar uma comunidade verdadeira, cuidado mútuo e envolvimento, onde cada membro tem um lugar significativo e cada pessoa tem seu valor.
Infelizmente hoje, as prioridades institucionais geralmente enfraquecem o compartilhar de vida entre os crentes. Aceitamos cegamente suas demandas enquanto falhamos em perceber que estas prioridades são o oposto de família. Em vez de celebrar a diversidade e autenticidade, ou dar espaço para pessoas que estão em diferentes passos na caminhada, estas são pressionadas para a conformidade. Estabelecer e seguir uma programação é mais importante que promover relacionamentos saudáveis e os dons de poucos são exaltados em vez de se permitir que cada um possa expressar os seus. As instituições existem para garantir a sua própria preservação, em vez de abraçar o projeto mais amplo de Deus neste mundo e genuinamente alcançar aqueles que ainda não o conhecem. Não é de se admirar que esta dinâmica tem mais sucesso para o entretenimento da multidão do que para fortalecer a família de Deus.
Deixando o passado para trás.
Qualquer um que se envolveu no cristianismo institucional sabe quão rapidamente os relacionamentos mais bem intencionados se transformam em alguma das obras da carne que Paulo destacou em Gálatas 5: “inimizades, discórdias, ciúmes, dissensões, ambições egoístas, facções e invejas”. Somos pegos nestas práticas mesmo pensando que estamos fazendo a vontade de Deus.
Quando a dor fica tão intensa, a facção quebra para dar origem a um corpo mais novo, melhor. Em poucos anos, eles são conduzidos pelas mesmas coisas que rejeitaram. Depois de algumas experiências como estas, não é de se admirar que muitos crentes perdem a esperança de encontrar a vibrante vida do corpo.
Mas o Pai quer deixar toda essa mágoa e desapontamentos no passado. Já ouvi histórias e mais histórias de horror de pessoas sendo exploradas por aqueles que dizem ter a vontade de Deus no coração. Foram estimulados a abandonar as mais profundas convicções em nome do “amor” e da “unidade” e quando não agiram desta forma, foram rejeitados e excluídos. Mesmo com experiências tão martirizantes, ainda vejo nestas pessoas a fome pela verdadeira comunhão com outros crentes.
Mas para experimentarem a verdadeira vida do corpo de Cristo, elas devem manter esta fome à frente das amarguras e decepções do passado. Talvez isso as ajude que embora sejam crentes tentando servir a Deus, aqueles relacionamentos não foram edificados no verdadeiro espírito da família do Pai. Muitas vezes eles estão focando mais no que precisam receber dos outros do que naquilo que podem compartilhar.
É fácil olhar para nós como vítimas e os outros como vilãos, quando a verdade raramente é tão simplista. Sim, provavelmente você foi manipulado pelos outros, mas também não é verdade que cultivamos a nossa própria manipulação? Esperamos que as pessoas agissem de certa forma e ficamos desapontados quando elas não fizeram. Quando tentamos que elas façam do nosso jeito, recorremos a táticas que Jesus jamais nos orientou a usar.
Por que isso? Porque nossa natureza caída usa as organizações quando elas atendem a nossas necessidades e as rejeita quando não atendem. Em outras palavras, o motivo pelo qual o espírito familiar muitas vezes se extingue na proporção que cresce a instituição que tenta contê-lo, é porque as pessoas veem a instituição como a forma de satisfazer suas próprias necessidades e preferências.
Um pastor que conheço define a religião institucional como a mútua acomodação de necessidades pessoais. Um tem necessidade de ensinar, outro de ser ensinado. Um tem necessidade de liderar a adoração, e outro de ter uma experiência de adoração. Um precisa pastorear, e outros desejam colocar suas responsabilidades sobre outros. Quando juntamos nossas necessidades, somos explorados na mesma proporção que exploramos. Não é de se admirar que este ajuntamento falha em desenvolver um ambiente onde pessoas possam viver juntas como família de Deus.
Uns aos outros.
Desta forma, a raiz do problema não é a instituição, mas as nossas necessidades pessoais e a busca de encontrar pessoas que as satisfaçam naquilo que falhamos em nosso relacionamento com Deus. Você pode até encontrar Escrituras para ressaltar esta noção errada, pois Deus claramente trabalha por meio das pessoas como extensão de seus próprios braços. Mas isto não quer dizer que Jesus edifica seu corpo baseado em nossas necessidades pessoais. Longe disso!
Ele constrói a vida familiar somente por meio de nosso relacionamento com Ele. Como Senhor dos Senhores, Cabeça da igreja, Salvador do mundo, todas as nossas necessidades só podem ser satisfeitas nele. Se forem legítimas, Ele vai ao encontro delas. Se, em vez disso, são apenas os delírios tiranos de nossa carne, Ele vai nos libertar delas. Somente quando entendemos isso que finalmente estamos prontos para o tipo de vida que Jesus vislumbra para nós.
Quando aprendemos a confiar nele para tudo - nossa satisfação, nossa direção, nossa justiça, nosso ministério, nossos recursos - nós finalmente podemos começar a compartilhar relacionamentos saudáveis com outros crentes. Porque nossos olhos estão em Jesus para trazer sua vida para nós, nunca mais manipularemos outras pessoas para nos dar o que precisamos. Embora Ele muitas vezes use outros crentes para fazer isso, Ele raramente vai usar aqueles dos quais estamos esperando algo.
É por isso que as Escrituras pintam um quadro da vida no corpo bem diferente do que encontramos hoje. Ela não considerou grandes instituições com dirigentes contratados e sobrecarregados. Em vez disso, idealizou um grupo de pessoas crescendo juntas em ouvir a Jesus; as quais intencional e livremente aprenderam a compartilhar suas vidas sem manipular uns aos outros. A única vida no corpo que a igreja primitiva entendia era o cuidado, sabedoria, e encorajamento que as pessoas compartilhavam juntas na realidade da vida.
Eles não imaginavam a igreja como pessoas enfileiradas em cadeiras. Em vez disso, eles entendiam que a igreja era todo um corpo comprometido em compartilhar momentos especiais, ajudando uns aos outros na caminhada e encontrando formas de aliviar as cargas uns dos outros. É por isso que a vida da igreja primitiva pode ser resumida no que as Escrituras chamam de “uns aos outros” através do Novo Testamento (veja lista abaixo).
Assim que eles expressavam o compromisso com a família do Pai. A amizade centrada em Cristo transbordando em atos de compaixão e serviço através do curso diário da vida humana. O corpo florescia somente quando cada pessoa tinha liberdade para crescer em Cristo e era valorizada por seus dons e impressões que compartilhava com o corpo. Não era um grupo de pessoas que precisava ser dirigido ou entretido; mas uma família que podia mutuamente compartilhar a vida de Deus. Ninguém precisava se assenhorear sobre os outros. Ninguém necessitava se sentir espiritualmente inferior. Pelo contrário, eles buscavam resolver suas necessidades em Jesus, e intencionalmente colocavam as necessidades dos outros em pé de igualdade com suas próprias.
O chamado para “uns aos outros”
·   Amai-vos uns aos outros - Jo 15:12
·   Preferindo-vos em honra uns aos outros - Jo 12:10
·   Edificando uns aos outros - Ro 14:19
·   Servindo uns aos outros - Gl 5:13
·   Sendo cordiais uns com os outros - Ef 4:32
·   Encorajando uns aos outros diariamente - Hb 3:13
·   Suportando uns aos outros - Ef 4:2
·   Confessando os pecados e orando uns pelos outros - Tg 5:16
·   Estimulando uns aos outros no amor e boas obras - Hb 10:24
·   Admoestando uns aos outros - Rm 15:14
·   Levando a carga uns dos outros - Gl 6:2
·   Perdoando-vos uns aos outros - Ef 4:32
·   Consolando uns aos outros - I Ts 4:18
·   Submetendo uns aos outros - Ef 5:21
·   Sendo hospitaleiros uns para com os outros - I Pe 4:9
·   Compartilhando uns com os outros - At. 4:34-35
·   Ensinando uns aos outros - Cl 3:16
De graça recebestes, de graça daí.
Note que não buscamos no corpo o que não encontramos em Cristo. É o contrário. Damos ao corpo a plenitude de nosso relacionamento com Ele. Por isso que Jesus não disse para buscarmos amor uns nos outros e nem para receber o serviço dos outros, mas para amarmos e servirmos uns aos outros. Não é o que esperamos receber dos outros que nos introduz na vida do corpo, mas o que intencionalmente damos.
Jesus expressou isso aos discípulos da seguinte forma: “De graça vocês receberam, de graça devem dar”! Receberam de quem? Uns dos outros? Não, eles compartilhavam o que receberam de Deus. Gosto como a Bíblia Mensagem traduz esta passagem: “Você foi tratado generosamente, então viva generosamente.”
Eu amo porque ela põe as coisas em sua própria ordem. Eu não posso ser generoso até eu experimentar no dia-a-dia a generosidade de Deus por mim. E se tenho experimentado a generosidade de Deus por mim, não posso deixar de tratar todos os outros ao meu redor da mesma forma. Os crentes mais infelizes para mim são aqueles que nunca descobriram esta generosidade. Porque vivem em seus próprios recursos ou expectativas, em vez de abraçar a vida de Jesus com todo o coração, enxergam a Deus como um Deus fraco. Eles nunca têm tempo ou energia suficientes para eles mesmos, quanto menos para serem tomados em interesse dos outros.
Contudo, quando nos enchemos do incrível amor de Deus por nós e abraçamos seu propósito, não temos que fazer de ninguém seu substituto. Como as pessoas gostam de encontrar as outras enquanto vivem, algo incrível acontece - família! Já fui pego no aeroporto muitas vezes por pessoas totalmente estranhas e, durante o tempo que fiquei em suas casas, tive a impressão de já conhecê-la por um longo tempo.
Amigos na Aventura.
Eu honestamente penso que se nos preocupássemos menos em tentar encontrar a igreja, ou tentar começar uma nova, e simplesmente aprendêssemos a viver no amor do Pai enquanto intencionalmente buscamos oportunidades de compartilhar isso com os outros, encontraremos nós mesmos no meio da igreja todos os dias.
O problema para muitos é que confiar em Deus é algo periférico em suas vidas, bem como o relacionamento com crentes para encorajamento e edificação mútua. Pensamos que só porque sentamos regularmente na mesma sala com outros crentes e chamamos isso “família” que já experimentamos a totalidade disso. A verdade é que, provavelmente, nem mesmo começou.
Deixa Deus ser a única fonte de todo desejo e necessidade em sua vida. Entre na aventura de aprender a confiar nele e você o verá te conectando com outros crentes que estão na mesma jornada. Será como encontrar peregrinos no campo. Haverá uma harmonia imediata, uma disposição de compartilhar o que vocês já experimentaram em ajudar outros, sem o desejo de forçar o outro a fazer o que você está fazendo.
Se for Deus que os está conduzindo, encontrarão maneiras de andar juntos e descobrir como compartilhar algo proveitoso para cada um. Não consigo enfatizar o bastante que isso é uma escolha intencional de comprometer a família pró-ativamente e de tornar-se um participante ativo em ajudar os outros. Isso não acontece enquanto sentamos em casa e giramos os polegares, ou sentamos num culto e contamos os minutos até o sermão terminar. Isso acontece quando as pessoas se lançam na aventura com Deus e ativamente buscam participar da vida dos outros como um encorajador na caminhada.
Quando ouvir que há outros crentes por perto compartilhando a mesma paixão, vá checar isso. Participei de algumas reuniões no verão passado onde pessoas decidiram percorrer grandes distâncias para encontrar outras que estavam no mesmo tipo de caminhada. Se existe um grupo de vocês tentando fazer isso e sentindo como se estivessem aquém, peçam ajuda a alguém para conversarem juntos e ouvirem o que Deus está dizendo.
Não há nada igual ao tipo de relacionamento que nos permita compartilhar momentos especiais, que ajude as pessoas a irem mais além na vida com Deus e levar o peso que nos põe pra baixo na vida. Não é tão difícil como se poderia pensar, e as alegrias são indescritíveis.
Acima de tudo, é o que Ele te fez para fazer parte!

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