quarta-feira, 28 de março de 2018

Vivendo como igreja relacional 07

VIVENDO COMO IGREJA RELACIONAL
Escrito por Wayne Jacobsen. Traduzido por Ezequiel Netto

07 - Por que a igreja no lar não é a resposta? Fevereiro de 2002.
Após 20 anos de incontáveis orações sem uma solução, eu concluí que, ou Deus estava me ignorando, ou eu estava buscando a coisa errada. A ansiedade foi minha companheira constante, e digo muito honestamente que isso não foi divertido. Ela me dava socos no estômago quando eu menos esperava, e seus delírios me mantinham acordado durante a noite.
Sempre que vinham as circunstâncias que provocavam ansiedade, eu implorava que Deus mudasse isso, que eu não ficasse ansioso. Raramente, ou nunca, Ele respondia essas orações. Finalmente, eu concluí que o problema não estava nas circunstâncias, mas na ansiedade em si mesma. Minhas orações mudaram. Parei de implorar para Deus mudar minhas circunstâncias e, em vez disso, pedia para remover minha ansiedade. Desta vez, levou apenas uma década para eu perceber que essas orações não estavam funcionando e cresci incrivelmente frustrado por Deus parecer indiferente aos meus assuntos.
Eu não sabia que, no coração de Deus, meu problema não eram as circunstâncias que permitiam que minha ansiedade emergisse, e nem a ansiedade em si. O problema era que Deus queria corrigir o fato de que eu não confiava nele para trabalhar em minhas circunstâncias para realizar seu propósito. Meu desejo era estar no controle de minha própria vida, e alcançar o sucesso, pois pensava que precisava disso para provar meu valor para Ele, e depois para mim mesmo. Isso me mantinha aprisionado.
Ansiedade era apenas um sintoma de uma profunda necessidade que Deus queria expor e curar com uma revelação mais clara de quem Ele é e o que queria fazer em mim. Muitos de vocês já leram as histórias dessa caminhada nas publicações anteriores, e também no livro He loves me (Deus me ama, Editora Sextante). Além disso, Ele me mostrou o quão grande Ele é e quanto Ele me amava, e cada vez menos eu sentia ansiedade. Embora minhas circunstâncias não tivessem mudado, minha confiança nele mudou. Terminei não mais querendo que Deus satisfizesse minha agenda, mas permitindo que eu vivesse na dele todos os dias.
Em minha melhor sabedoria, eu tentava deixar Deus consertar minhas coisas erradas. A verdadeira liberdade não está em conformar minhas circunstâncias com minhas expectativas, ou simplesmente remover meus pensamentos ansiosos. Ele queria desenvolver um relacionamento comigo que levaria meu coração a uma posição de descanso em relação às circunstâncias que viriam em meu caminho. Por 30 anos eu busquei um substituto inadequado para a real solução.
Vi pessoas fazendo a mesma coisa em descobrir como ser parte da igreja de Deus. Vendo a fraqueza e falhas de muitas estruturas religiosas, eles se voltaram para igrejas nos lares como resposta para uma vida autêntica para a igreja. Infelizmente, eles também se desapontaram com isso.
Não é uma questão de forma.
Aqueles que leem meu site Body Life sabem que eu gosto de ver o corpo de Cristo encontrando formas de viver sua fé e comunhão em pequenos grupos caseiros, onde pessoas possam ser participantes ativos, juntos na caminhada de fé. A igreja primitiva encontrou nas casas o ambiente mais natural para as pessoas compartilharem juntas a vida de Cristo.
É fácil convencer as pessoas que a igreja no lar pode ser a resposta exata para tudo o que elas desejam experimentar na vida do corpo, isto é, até que elas estejam envolvidas em uma. Rapidamente se torna evidente que reuniões numa casa não representam, necessariamente, a solução para tudo com o que elas queriam romper. O que fazer com pessoas que querem usar o grupo apenas para suas próprias necessidades? Onde encontraremos pessoas dispostas a pagar o preço de compartilharem este tipo de vida juntas? O que faremos quando a reunião é entediante e estamos cansados de encarar uns aos outros?
Sair de um prédio maior para uma casa não responde, por si só, nada substancialmente. Enquanto proporciona a possibilidade de uma participação mais ativa e profunda nos relacionamentos, o fato de sentar numa casa para uma reunião não garante que as coisas vão acontecer. Se as pessoas não descobrirem a essência do que significa viver como igreja, mudar os mecanismos só dará suporte a uma plataforma onde alguém, com sede de liderança, comandará o grupo, ou puxará este para baixo tentando fazer de suas necessidades ou paixões pessoais o foco do grupo.
O que há de errado com a forma como fazemos igreja hoje tem muito menos a ver com as formas que usamos do que com a jornada em que estamos. Se procuramos igrejas nos lares para saciar as necessidades que as formas mais institucionais não conseguem atender, estamos propensos a ficar desapontados com nossa experiência com este tipo de igreja. Se começarmos com o foco em nossas necessidades, em vez de nos propósitos de Deus, terminaremos desapontados com os resultados.
Acomodação mútua de necessidades pessoais.
Como na minha tentativa de conseguir que Deus resolvesse minha ansiedade da minha maneira, muitos de nós estamos programados para se relacionar com Deus através das necessidades. Se começarmos a edificar nossa ideia de igreja baseados nas necessidades pessoais, somente terminaremos frustrados com uma pobre imitação da verdadeira igreja que Deus criou para que abraçássemos. Se buscarmos um relacionamento com a igreja por precisarmos de aceitação, ou segurança, ou um lugar para exercer nossos dons, ou pessoas que nos amem de alguma forma, ou alguém que nos diga como viver em Cristo, já começamos numa direção errada.
Muitas pessoas nunca percebem isso porque as coisas que desejam, como estar livres da ansiedade, não são coisas ruins. É a forma como buscamos isso que representa uma verdadeira armadilha para nós. Um amigo meu, que era pastor denominacional por muitos anos, por fim definiu a religião organizada como “acomodação mútua de necessidades pessoais”. Alguns precisam liderar e outros serem liderados. Alguns buscam aceitação e outros se realizam em agir como se fossem salvadores. Alguns necessitam ir à frente e cantar, enquanto outros querem sentar e assistir um culto animado. Algumas pessoas têm paixão pelo ministério com crianças e outros só querem deixar seus filhos para que outros as discipline.
O problema é que a congregação vai existir apenas enquanto conseguir combinar essas necessidades. Quando conseguem, a congregação segue muito bem. Quando não conseguem, ficam enredados em fofocas e intrigas, e as pessoas saem em busca de outras congregações que atendam suas necessidades ou formam novas, com grupos diferentes no controle. E o ciclo começa novamente enquanto a maioria nunca percebe que a vida da igreja não é edificada com nossas necessidades pessoais, mas com o propósito de Deus com seu povo.
Mudar o local de reunião de um prédio para uma casa não resolve o problema. Se buscarmos a vida da igreja através de termos nossas necessidades atendidas por outros, encontraremos períodos de satisfação misturados com longos períodos de sequidão, descontentamento e frustração.
Dependência Absoluta.
Experimentar a alegria da comunhão autêntica começa quando percebemos que toda nossa dependência deve estar centrada somente em Jesus. Não temos comunhão por que precisamos disso. E também não é para atender nossas necessidades pessoais. A verdadeira comunhão só será conhecida quando nossa dependência em Cristo se derramar em nosso amor pelos demais. Conhecendo a alegria e liberdade da vida de Jesus, a questão não é ajudar alguém, mas compartilhar isso com os outros.
As Escrituras são claras. A vida verdadeira é fundamentada somente em Jesus. Não existe vida em nenhum outro - nem mesmo num ajuntamento correto de cristãos em casas ou prédios. Isto é o que Paulo quis dizer quando chamou Jesus de Cabeça da Igreja, declarando que o propósito de Deus para ele era ter “o primeiro lugar em todas as coisas”. Nossas necessidades não podem ser o foco da vida da igreja. A presença de Deus em nosso meio é.
Fomos ensinados erroneamente que precisamos ir à igreja para nos encher com a vida de Deus. Não é verdade! Nós só podemos nos encher da vida de Deus mediante relacionamentos transformadores com o Pai, por meio do Filho. Não fomos chamados para nos encher a nós mesmos na igreja, mas para vivermos cheios dele e, a partir daí, compartilharmos juntos esta vida de Cristo com o povo de Deus.
Aqui está o problema com a maioria dos que passam no ambiente da igreja atualmente, incluindo muitas igrejas nos lares: em vez de ensinarem as pessoas como viverem dependentes de Jesus, eles substituem esta dependência pela tentativa frustrada de assumir o lugar de Jesus na vida das pessoas. Em vez de ensinar às pessoas como viver em Cristo, eles as tornam dependentes das estruturas e reuniões, as quais chamam de igreja. Nossa expressão de igreja se torna outra coisa para ficar no caminho de pessoas vivendo profunda e completamente nele.
Mas pessoas que estão aprendendo a viver intensamente num relacionamento com Jesus encontrarão a verdadeira alegria ao compartilhar a vida com outras pessoas que estão fazendo a mesma coisa. Eles podem caminhar juntos por um momento, ou por anos, sem ter que manipular ou controlar uns aos outros. Porque estas pessoas vão perceber que Jesus é o único no controle de tudo.
Infelizmente muitos crentes não têm ideia de como viver desta forma. Parecemos satisfeitos por manter as pessoas dependentes de nossos programas e cultos. Isto explica porque tantas expressões de igreja sempre prometem mais do que entregam. Podemos lidar sempre com muitos métodos de igreja, mas se não fizermos isso de forma correta, todos os nossos esforços fracassarão. Se você precisar de ajuda, encontre algumas pessoas que vivem desta forma, as quais não estão reunidas em um “bando de discípulos”, e peça ajuda a eles.
A vida da igreja se desenvolve com um grupo de pessoas que estão focadas em Jesus. Se o foco estiver na igreja, você ficará sempre desapontado. Foque em Jesus e você o encontrará sempre edificando a igreja ao seu redor.
Em todo lugar um movimento.
Em todo lugar que vou agora, pessoas me perguntam sobre o “movimento de igrejas nos lares”, esperando que isso traga a resposta para a fome que têm pela verdadeira vida da igreja. Enquanto eu prefiro fortemente o ambiente relacional em vez do institucional, todo tempo que ouço a palavra “movimento” meu coração desanima. Estou convencido que no dia que chamarmos o que Deus está fazendo de ‘movimento’, este já começou a morrer. Tenho visto muitos movimentos indo e vindo - carismático, discipulado, libertação, cura, intercessão, batalha espiritual, profético, adoração, apostólico, só para citar alguns. Todos estes se tornaram enfraquecidos, e não foi porque Deus não estava participando deles, mas pelo fato de pessoas dedicarem seus esforços para servir suas próprias necessidades e ambições.
Chamar algo de ‘movimento’ infla nosso próprio senso de importância e nos separa da obra multifacetada de Deus que transcende qualquer forma particular de fazer as coisas. Há muitos anos atrás eu fazia parte de uma denominação que chamava a si mesma de movimento. Usávamos este termo para fazer com que as pessoas sentissem parte de algo mais significativo do que os crentes menos brilhantes, que não faziam as coisas do jeito que nós fazíamos. Penso que esta distinção deixava Deus magoado.
Rotular a alegria de compartilhar a vida de Cristo em nossas casas de “Movimento de Igrejas nos Lares” tira o nosso foco de Jesus e transfere para um simples método ou para as palavras de alguém que se autodenominou expert. Da mesma forma, se tiramos o foco de Jesus para as nossas necessidades pessoais, perderemos a alegria da autêntica vida da igreja.
Recentemente, ao participar de um encontro em Buffalo, Nova York, um amigo me entregou um novo livro do movimento de igrejas nos lares. O sub-titulo quase me deixou assombrado: “... do homem radical que está conduzindo esta revolução”. Eu considerava um dos autores como amigo suficiente e pedi que me explicasse aquilo, pois a capa daquele livro era quase uma blasfêmia.
Se a igreja é mesmo a obra de Jesus, e se Ele tem a primazia em tudo, como alguém pode dizer que conduz o que Deus está fazendo? A igreja é obra de Deus ou não é. Por favor, entenda, não penso que sejam homens maliciosos que causam dano à igreja de Deus. Honestamente, eles desejam ver a igreja chegar a algum tipo de plenitude, liberdade e vida. Contudo, na forma que eles caminham, demonstra que enquanto entenderem tão pouco dos caminhos de Deus, eles conhecerão menos ainda de seu caráter.
Enquanto seus livros destacam de muitas formas que Deus pede que compartilhemos sua vida juntos, eles nos laçam com a noção envenenada que podemos produzir esta vida por praticarmos certos mecanismos ou por seguirmos determinado líder. Tais ensinamentos realmente não atingem as prioridades defendidas por causa da imposição de uma estrutura que vai justamente prejudicar estas prioridades.
Com certeza meu amigo não concorda comigo. De fato, como ele disse, “o livro está vendendo muito”. Não tenho dúvida disso. Parte da razão porque criamos movimentos é porque pessoas querem modelos que pensam que podem simplesmente implantar em suas próprias comunidades.
Super Modelos.
Muitas pessoas me perguntam sobre um modelo de igreja, esperando que algum livro pudesse trazê-lo. Não gosto de desapontá-los, mas eu nem mesmo creio que exista um modelo que eles possam adotar a fim de produzir a vitalidade da comunhão autêntica. Esta não é produzida por mecanismos, mas no coração das pessoas que Deus está transformando para serem como Ele mesmo.
Você pode pegar o melhor manual bíblico que exista no mundo e se você implantar seus métodos, em vez de aprender como viver dependente de Jesus, isto ainda será apenas um substituto para a sua presença, em vez de um lugar onde os companheiros peregrinos compartilham a vida em comunhão.
Jesus não nos deixou com um modelo a ser edificado, mas foi um guia a ser seguido. Experimentamos a vida da igreja não porque encontramos certo método ou um certo lugar, mas porque aprendemos a ouvir Deus juntos e deixamos que Ele nos ensine como compartilhar sua vida. Se substituímos este processo por qualquer método ou modelo, terminaremos seguindo isto em vez de Jesus, e edificando uma imitação em vez do verdadeiro. Não existe maior distração para a qual Deus quer nos alertar do que quando damos os nossos maiores esforços para fazer algo grandioso para Deus. Ele não nos pediu para trabalharmos para Ele, mas com Ele.
Fique atento para qualquer modelo ou um suposto líder que queira te ensinar o que fazer, em vez de ajudá-lo a ouvir Jesus. Existem líderes verdadeiros no corpo de Cristo atualmente? Com certeza! Mas eles não estão encabeçando movimentos ou inventando modelos. Eles estão ajudando pessoas a conhecerem quem Jesus realmente é, e aprenderem como segui-lo. Religião resulta quando homens e mulheres, com suas melhores intenções, melhores atividades, e melhores programas, tentam realizar o trabalho de Deus. Isto sempre nos conduz a programações bem intencionadas, que farão algo de bom, mas nunca trarão os grandes frutos que Deus pretende e que só Ele pode realizar.
Muitos pensam que estou tão preocupado com a religião organizada pelo fato de eu ter sido afetado pelo seu pior lado. Isto não é totalmente verdade. Penso que o maior perigo vem não quando ela é obviamente falha, mas quando funciona bem - dando às pessoas uma experiência estética ou um lugar para aliviar a culpa, mas perdendo o compromisso verdadeiro com o Rei da Glória. Quando somos convencidos que sentarmos na mesma sala ou cumprimentarmos brevemente no estacionamento é comunhão verdadeira, perderemos a maior alegria dos relacionamentos fortalecedores que nos ajudarão a corresponder melhor ao que Deus está fazendo conosco.
Não aceitamos substitutos.
O que amo na obra do Espírito Santo em nossos dias é que Ele não é dirigido por uma organização, um livro ou um pregador carismático. O Espírito de Deus está criando uma fome em seu povo que desafia os limites da religião ou uma forma particular de fazer as coisas, levando-os a beber profundamente de sua presença e compartilhar uma vida efetiva com outros parceiros de caminhada.
Algumas pessoas estão encontrando outros com a mesma fome dentro das congregações mais tradicionais, e outros são encontrados fora delas. Se você ainda não encontrou pessoas como estas, não fique desapontado. Deus ainda não fez todas as conexões que Ele deseja fazer. Apenas não negocie a paixão que está em seu coração com uma sombra da vida da igreja, perdendo a coisa real.
A verdadeira vida da igreja permite Jesus ter a primazia em todas as coisas, e encoraja pessoas a conhecê-lo nas alturas. Isto liberta as pessoas que estão caminhando para serem transformadas por Deus a serem autênticas, e não se conformarem a nada ou precisar de fingimento. Isto mostra a elas como estarem envolvidas na vida de cada um, e não manipular os outros, mas encorajar a grande obra de Deus em suas vidas.
Por que isso é tão difícil de encontrar? Pode ser porque muitos crentes estão focados em suas próprias necessidades e não saibam como se ligar com outros em verdadeira comunhão. Pode também ser por estarem acomodados em um modelo pobre, que traz benefícios de certa forma, mas que anulam os desejos mais profundos para uma autêntica vida no corpo. Ou que eles nunca aprenderam a satisfação de deixar Jesus ser o Cabeça da igreja.
Se não agirmos corretamente, não importa onde ou como nos reunimos. Ainda estará centrado em nós, e muito aquém da glória de Deus. Por que você não pede a Deus que te ensine a deixar Jesus ter a primazia em seu coração, e te ajude a encontrar pessoas para compartilhar esta paixão? Não consigo imaginar uma oração que mais agrade a Deus e, quando isso acontecer, Ele te mostrará como e onde você poderá viver esta vida nele.

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