VIVENDO COMO IGREJA RELACIONAL
Escrito por Wayne Jacobsen. Traduzido por Ezequiel Netto
07 - Por que a
igreja no lar não é a resposta? Fevereiro de 2002.
Após 20 anos de incontáveis orações sem
uma solução, eu concluí que, ou Deus estava me ignorando, ou eu estava buscando
a coisa errada. A ansiedade foi minha companheira constante, e digo muito
honestamente que isso não foi divertido. Ela me dava socos no estômago quando
eu menos esperava, e seus delírios me mantinham acordado durante a noite.
Sempre que vinham as circunstâncias que
provocavam ansiedade, eu implorava que Deus mudasse isso, que eu não ficasse
ansioso. Raramente, ou nunca, Ele respondia essas orações. Finalmente, eu
concluí que o problema não estava nas circunstâncias, mas na ansiedade em si
mesma. Minhas orações mudaram. Parei de implorar para Deus mudar minhas
circunstâncias e, em vez disso, pedia para remover minha ansiedade. Desta vez,
levou apenas uma década para eu perceber que essas orações não estavam
funcionando e cresci incrivelmente frustrado por Deus parecer indiferente aos
meus assuntos.
Eu não sabia que, no coração de Deus,
meu problema não eram as circunstâncias que permitiam que minha ansiedade
emergisse, e nem a ansiedade em si. O problema era que Deus queria corrigir o
fato de que eu não confiava nele para trabalhar em minhas circunstâncias para
realizar seu propósito. Meu desejo era estar no controle de minha própria vida,
e alcançar o sucesso, pois pensava que precisava disso para provar meu valor
para Ele, e depois para mim mesmo. Isso me mantinha aprisionado.
Ansiedade era apenas um sintoma de uma
profunda necessidade que Deus queria expor e curar com uma revelação mais clara
de quem Ele é e o que queria fazer em mim. Muitos de vocês já leram as
histórias dessa caminhada nas publicações anteriores, e também no livro He loves me (Deus me ama, Editora
Sextante). Além disso, Ele me mostrou o quão grande Ele é e quanto Ele me
amava, e cada vez menos eu sentia ansiedade. Embora minhas circunstâncias não
tivessem mudado, minha confiança nele mudou. Terminei não mais querendo que
Deus satisfizesse minha agenda, mas permitindo que eu vivesse na dele todos os
dias.
Em minha melhor sabedoria, eu tentava
deixar Deus consertar minhas coisas erradas. A verdadeira liberdade não está em
conformar minhas circunstâncias com minhas expectativas, ou simplesmente
remover meus pensamentos ansiosos. Ele queria desenvolver um relacionamento
comigo que levaria meu coração a uma posição de descanso em relação às
circunstâncias que viriam em meu caminho. Por 30 anos eu busquei um substituto inadequado
para a real solução.
Vi pessoas fazendo a mesma coisa em
descobrir como ser parte da igreja de Deus. Vendo a fraqueza e falhas de muitas
estruturas religiosas, eles se voltaram para igrejas nos lares como resposta
para uma vida autêntica para a igreja. Infelizmente, eles também se
desapontaram com isso.
Não
é uma questão de forma.
Aqueles que leem meu site Body Life sabem que eu gosto de ver o
corpo de Cristo encontrando formas de viver sua fé e comunhão em pequenos
grupos caseiros, onde pessoas possam ser participantes ativos, juntos na
caminhada de fé. A igreja primitiva encontrou nas casas o ambiente mais natural
para as pessoas compartilharem juntas a vida de Cristo.
É fácil convencer as pessoas que a
igreja no lar pode ser a resposta exata para tudo o que elas desejam
experimentar na vida do corpo, isto é, até que elas estejam envolvidas em uma.
Rapidamente se torna evidente que reuniões numa casa não representam,
necessariamente, a solução para tudo com o que elas queriam romper. O que fazer
com pessoas que querem usar o grupo apenas para suas próprias necessidades?
Onde encontraremos pessoas dispostas a pagar o preço de compartilharem este
tipo de vida juntas? O que faremos quando a reunião é entediante e estamos
cansados de encarar uns aos outros?
Sair de um prédio maior para uma casa
não responde, por si só, nada substancialmente. Enquanto proporciona a
possibilidade de uma participação mais ativa e profunda nos relacionamentos, o
fato de sentar numa casa para uma reunião não garante que as coisas vão
acontecer. Se as pessoas não descobrirem a essência do que significa viver como
igreja, mudar os mecanismos só dará suporte a uma plataforma onde alguém, com
sede de liderança, comandará o grupo, ou puxará este para baixo tentando fazer
de suas necessidades ou paixões pessoais o foco do grupo.
O que há de errado com a forma como
fazemos igreja hoje tem muito menos a ver com as formas que usamos do que com a
jornada em que estamos. Se procuramos igrejas nos lares para saciar as
necessidades que as formas mais institucionais não conseguem atender, estamos
propensos a ficar desapontados com nossa experiência com este tipo de igreja.
Se começarmos com o foco em nossas necessidades, em vez de nos propósitos de
Deus, terminaremos desapontados com os resultados.
Acomodação
mútua de necessidades pessoais.
Como na minha tentativa de conseguir que
Deus resolvesse minha ansiedade da minha maneira, muitos de nós estamos
programados para se relacionar com Deus através das necessidades. Se começarmos
a edificar nossa ideia de igreja baseados nas necessidades pessoais, somente
terminaremos frustrados com uma pobre imitação da verdadeira igreja que Deus
criou para que abraçássemos. Se buscarmos um relacionamento com a igreja por
precisarmos de aceitação, ou segurança, ou um lugar para exercer nossos dons,
ou pessoas que nos amem de alguma forma, ou alguém que nos diga como viver em
Cristo, já começamos numa direção errada.
Muitas pessoas nunca percebem isso
porque as coisas que desejam, como estar livres da ansiedade, não são coisas
ruins. É a forma como buscamos isso que representa uma verdadeira armadilha
para nós. Um amigo meu, que era pastor denominacional por muitos anos, por fim
definiu a religião organizada como “acomodação
mútua de necessidades pessoais”. Alguns precisam liderar e outros serem
liderados. Alguns buscam aceitação e outros se realizam em agir como se fossem
salvadores. Alguns necessitam ir à frente e cantar, enquanto outros querem
sentar e assistir um culto animado. Algumas pessoas têm paixão pelo ministério
com crianças e outros só querem deixar seus filhos para que outros as
discipline.
O problema é que a congregação vai
existir apenas enquanto conseguir combinar essas necessidades. Quando
conseguem, a congregação segue muito bem. Quando não conseguem, ficam enredados
em fofocas e intrigas, e as pessoas saem em busca de outras congregações que
atendam suas necessidades ou formam novas, com grupos diferentes no controle. E
o ciclo começa novamente enquanto a maioria nunca percebe que a vida da igreja
não é edificada com nossas necessidades pessoais, mas com o propósito de Deus
com seu povo.
Mudar o local de reunião de um prédio
para uma casa não resolve o problema. Se buscarmos a vida da igreja através de
termos nossas necessidades atendidas por outros, encontraremos períodos de
satisfação misturados com longos períodos de sequidão, descontentamento e
frustração.
Dependência
Absoluta.
Experimentar a alegria da comunhão
autêntica começa quando percebemos que toda nossa dependência deve estar
centrada somente em Jesus. Não temos comunhão por que precisamos disso. E
também não é para atender nossas necessidades pessoais. A verdadeira comunhão só
será conhecida quando nossa dependência em Cristo se derramar em nosso amor
pelos demais. Conhecendo a alegria e liberdade da vida de Jesus, a questão não
é ajudar alguém, mas compartilhar isso com os outros.
As Escrituras são claras. A vida
verdadeira é fundamentada somente em Jesus. Não existe vida em nenhum outro -
nem mesmo num ajuntamento correto de cristãos em casas ou prédios. Isto é o que
Paulo quis dizer quando chamou Jesus de Cabeça da Igreja, declarando que o
propósito de Deus para ele era ter “o
primeiro lugar em todas as coisas”. Nossas necessidades não podem ser o
foco da vida da igreja. A presença de Deus em nosso meio é.
Fomos ensinados erroneamente que
precisamos ir à igreja para nos encher com a vida de Deus. Não é verdade! Nós
só podemos nos encher da vida de Deus mediante relacionamentos transformadores
com o Pai, por meio do Filho. Não fomos chamados para nos encher a nós mesmos
na igreja, mas para vivermos cheios dele e, a partir daí, compartilharmos
juntos esta vida de Cristo com o povo de Deus.
Aqui está o problema com a maioria dos
que passam no ambiente da igreja atualmente, incluindo muitas igrejas nos
lares: em vez de ensinarem as pessoas como viverem dependentes de Jesus, eles
substituem esta dependência pela tentativa frustrada de assumir o lugar de
Jesus na vida das pessoas. Em vez de ensinar às pessoas como viver em Cristo,
eles as tornam dependentes das estruturas e reuniões, as quais chamam de
igreja. Nossa expressão de igreja se torna outra coisa para ficar no caminho de
pessoas vivendo profunda e completamente nele.
Mas pessoas que estão aprendendo a viver
intensamente num relacionamento com Jesus encontrarão a verdadeira alegria ao
compartilhar a vida com outras pessoas que estão fazendo a mesma coisa. Eles
podem caminhar juntos por um momento, ou por anos, sem ter que manipular ou
controlar uns aos outros. Porque estas pessoas vão perceber que Jesus é o único
no controle de tudo.
Infelizmente muitos crentes não têm ideia
de como viver desta forma. Parecemos satisfeitos por manter as pessoas
dependentes de nossos programas e cultos. Isto explica porque tantas expressões
de igreja sempre prometem mais do que entregam. Podemos lidar sempre com muitos
métodos de igreja, mas se não fizermos isso de forma correta, todos os nossos
esforços fracassarão. Se você precisar de ajuda, encontre algumas pessoas que
vivem desta forma, as quais não estão reunidas em um “bando de discípulos”, e peça ajuda a eles.
A vida da igreja se desenvolve com um
grupo de pessoas que estão focadas em Jesus. Se o foco estiver na igreja, você
ficará sempre desapontado. Foque em Jesus e você o encontrará sempre edificando
a igreja ao seu redor.
Em
todo lugar um movimento.
Em todo lugar que vou agora, pessoas me
perguntam sobre o “movimento de igrejas
nos lares”, esperando que isso traga a resposta para a fome que têm pela
verdadeira vida da igreja. Enquanto eu prefiro fortemente o ambiente relacional
em vez do institucional, todo tempo que ouço a palavra “movimento” meu coração desanima. Estou convencido que no dia que
chamarmos o que Deus está fazendo de ‘movimento’, este já começou a morrer.
Tenho visto muitos movimentos indo e vindo - carismático, discipulado,
libertação, cura, intercessão, batalha espiritual, profético, adoração,
apostólico, só para citar alguns. Todos estes se tornaram enfraquecidos, e não
foi porque Deus não estava participando deles, mas pelo fato de pessoas
dedicarem seus esforços para servir suas próprias necessidades e ambições.
Chamar algo de ‘movimento’ infla nosso
próprio senso de importância e nos separa da obra multifacetada de Deus que
transcende qualquer forma particular de fazer as coisas. Há muitos anos atrás eu
fazia parte de uma denominação que chamava a si mesma de movimento. Usávamos este termo para fazer com que as pessoas
sentissem parte de algo mais significativo do que os crentes menos brilhantes,
que não faziam as coisas do jeito que nós fazíamos. Penso que esta distinção
deixava Deus magoado.
Rotular a alegria de compartilhar a vida
de Cristo em nossas casas de “Movimento
de Igrejas nos Lares” tira o nosso foco de Jesus e transfere para um
simples método ou para as palavras de alguém que se autodenominou expert. Da mesma forma, se tiramos o
foco de Jesus para as nossas necessidades pessoais, perderemos a alegria da
autêntica vida da igreja.
Recentemente, ao participar de um encontro
em Buffalo, Nova York, um amigo me entregou um novo livro do movimento de igrejas nos lares. O
sub-titulo quase me deixou assombrado: “... do
homem radical que está conduzindo esta revolução”. Eu considerava um dos
autores como amigo suficiente e pedi que me explicasse aquilo, pois a capa
daquele livro era quase uma blasfêmia.
Se a igreja é mesmo a obra de Jesus, e
se Ele tem a primazia em tudo, como alguém pode dizer que conduz o que Deus
está fazendo? A igreja é obra de Deus ou não é. Por favor, entenda, não penso
que sejam homens maliciosos que causam dano à igreja de Deus. Honestamente,
eles desejam ver a igreja chegar a algum tipo de plenitude, liberdade e vida.
Contudo, na forma que eles caminham, demonstra que enquanto entenderem tão
pouco dos caminhos de Deus, eles conhecerão menos ainda de seu caráter.
Enquanto seus livros destacam de muitas
formas que Deus pede que compartilhemos sua vida juntos, eles nos laçam com a
noção envenenada que podemos produzir esta vida por praticarmos certos
mecanismos ou por seguirmos determinado líder. Tais ensinamentos realmente não
atingem as prioridades defendidas por causa da imposição de uma estrutura que
vai justamente prejudicar estas prioridades.
Com certeza meu amigo não concorda
comigo. De fato, como ele disse, “o livro
está vendendo muito”. Não tenho dúvida disso. Parte da razão porque criamos
movimentos é porque pessoas querem modelos que pensam que podem simplesmente
implantar em suas próprias comunidades.
Super
Modelos.
Muitas pessoas me perguntam sobre um
modelo de igreja, esperando que algum livro pudesse trazê-lo. Não gosto de
desapontá-los, mas eu nem mesmo creio que exista um modelo que eles possam
adotar a fim de produzir a vitalidade da comunhão autêntica. Esta não é
produzida por mecanismos, mas no coração das pessoas que Deus está transformando
para serem como Ele mesmo.
Você pode pegar o melhor manual bíblico
que exista no mundo e se você implantar seus métodos, em vez de aprender como
viver dependente de Jesus, isto ainda será apenas um substituto para a sua
presença, em vez de um lugar onde os companheiros peregrinos compartilham a
vida em comunhão.
Jesus não nos deixou com um modelo a ser
edificado, mas foi um guia a ser seguido. Experimentamos a vida da igreja não
porque encontramos certo método ou um certo lugar, mas porque aprendemos a ouvir
Deus juntos e deixamos que Ele nos ensine como compartilhar sua vida. Se
substituímos este processo por qualquer método ou modelo, terminaremos seguindo
isto em vez de Jesus, e edificando uma imitação em vez do verdadeiro. Não
existe maior distração para a qual Deus quer nos alertar do que quando damos os
nossos maiores esforços para fazer algo grandioso para Deus. Ele não nos pediu
para trabalharmos para Ele, mas com Ele.
Fique atento para qualquer modelo ou um
suposto líder que queira te ensinar o que fazer, em vez de ajudá-lo a ouvir
Jesus. Existem líderes verdadeiros no corpo de Cristo atualmente? Com certeza!
Mas eles não estão encabeçando movimentos ou inventando modelos. Eles estão
ajudando pessoas a conhecerem quem Jesus realmente é, e aprenderem como
segui-lo. Religião resulta quando homens e mulheres, com suas melhores
intenções, melhores atividades, e melhores programas, tentam realizar o
trabalho de Deus. Isto sempre nos conduz a programações bem intencionadas, que
farão algo de bom, mas nunca trarão os grandes frutos que Deus pretende e que
só Ele pode realizar.
Muitos pensam que estou tão preocupado
com a religião organizada pelo fato de eu ter sido afetado pelo seu pior lado.
Isto não é totalmente verdade. Penso que o maior perigo vem não quando ela é
obviamente falha, mas quando funciona bem - dando às pessoas uma experiência
estética ou um lugar para aliviar a culpa, mas perdendo o compromisso
verdadeiro com o Rei da Glória. Quando somos convencidos que sentarmos na mesma
sala ou cumprimentarmos brevemente no estacionamento é comunhão verdadeira,
perderemos a maior alegria dos relacionamentos fortalecedores que nos ajudarão
a corresponder melhor ao que Deus está fazendo conosco.
Não
aceitamos substitutos.
O que amo na obra do Espírito Santo em
nossos dias é que Ele não é dirigido por uma organização, um livro ou um
pregador carismático. O Espírito de Deus está criando uma fome em seu povo que
desafia os limites da religião ou uma forma particular de fazer as coisas,
levando-os a beber profundamente de sua presença e compartilhar uma vida
efetiva com outros parceiros de caminhada.
Algumas pessoas estão encontrando outros
com a mesma fome dentro das congregações mais tradicionais, e outros são
encontrados fora delas. Se você ainda não encontrou pessoas como estas, não fique
desapontado. Deus ainda não fez todas as conexões que Ele deseja fazer. Apenas
não negocie a paixão que está em seu coração com uma sombra da vida da igreja,
perdendo a coisa real.
A verdadeira vida da igreja permite
Jesus ter a primazia em todas as coisas, e encoraja pessoas a conhecê-lo nas
alturas. Isto liberta as pessoas que estão caminhando para serem transformadas
por Deus a serem autênticas, e não se conformarem a nada ou precisar de
fingimento. Isto mostra a elas como estarem envolvidas na vida de cada um, e
não manipular os outros, mas encorajar a grande obra de Deus em suas vidas.
Por que isso é tão difícil de encontrar?
Pode ser porque muitos crentes estão focados em suas próprias necessidades e
não saibam como se ligar com outros em verdadeira comunhão. Pode também ser por
estarem acomodados em um modelo pobre, que traz benefícios de certa forma, mas
que anulam os desejos mais profundos para uma autêntica vida no corpo. Ou que
eles nunca aprenderam a satisfação de deixar Jesus ser o Cabeça da igreja.
Se não agirmos corretamente, não importa
onde ou como nos reunimos. Ainda estará centrado em nós, e muito aquém da
glória de Deus. Por que você não pede a Deus que te ensine a deixar Jesus ter a
primazia em seu coração, e te ajude a encontrar pessoas para compartilhar esta
paixão? Não consigo imaginar uma oração que mais agrade a Deus e, quando isso
acontecer, Ele te mostrará como e onde você poderá viver esta vida nele.
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