quarta-feira, 28 de março de 2018

Vivendo como igreja relacional 09

VIVENDO COMO IGREJA RELACIONAL
Escrito por Wayne Jacobsen. Traduzido por Ezequiel Netto

09 - Dependência Compartilhada.
Abril de 2003.
Na última década encontrei milhares de crentes em todo o mundo e assisti cuidadosamente como eles buscam viver a comunhão cristã em vários tipos de grupos - desde dois ou três em comunhão espontânea, ou igrejas centenárias, e tudo mais acerca disso. Em muitos lugares tive o prazer de encontrar o povo de Deus compartilhando sua realidade em unidade, de como cada um crescia em conhecê-lo mais e mais. Em outros lugares, assisti em tristeza como eles se esforçavam para repetir alguma forma da vida do Novo Testamento, mas, a despeito de todo esforço e diligência, eles continuamente terminavam desapontados e frustrados.
Pelo fato de desejar que todos conheçam a alegria de viver a vida de Cristo, estou sempre tentando identificar o que faz a diferença. Por que alguns grupos experimentam a plenitude do Senhor em unidade, e outros a perderam? Alguns poderiam dizer que a presença de Jesus faz toda a diferença. Mesmo que isso possa ser parcialmente verdadeiro, eu o encontro presente em todo lugar, mesmo ao redor das pessoas mais aprisionadas, convidando-as para mais perto dele.
Outros poderiam dizer que é porque alguns encontraram o caminho que Deus mostrou para eles andar, e outros seguem as tradições de homens. Isto também pode ser parcialmente verdadeiro, pois percebi em uma ocasião onde pessoas usando os princípios bíblicos mais corretos tinham um relacionamento bastante disfuncional, e pessoas tão ingênuas, como crianças espirituais, vivendo um momento significativo em experimentar a alegria da obra de Deus.
Não, no final, isso não é sabedoria, maturidade, os princípios corretos ou até mesmo o esforço e compromisso. Pessoas que vivem a vida de Deus na forma mais saudável estão aprendendo a beleza da dependência compartilhada. E não estou dizendo que elas aprenderam a depender de um líder, de cada um ou de uma certa igreja estruturada, mas que eles estão aprendendo juntos em como depender do Pai e desta forma participarem de sua obra ao redor deles.
Precisamos de comunhão?
Na maior parte da minha vida eu ouvi pessoas falando sobre a vida cristã com a linguagem de necessidade. “Um bom cristão é aquele que frequenta os cultos sempre que o corpo se reúne”. “Você precisa vir para a igreja” ou você cairá em engano. A parte ruim da vida cristã é que a única forma de nos motivar a participar é porque devemos. Toda essa conversa de obrigação e compromisso me leva a pensar que a força motriz por trás da “frequência à igreja” nada mais é do que miseráveis que amam a companhia. Encarar isso, sentados durante o mesmo culto toda semana, parece entediante. Mesmo os mais incríveis pregadores que já ouvi se tornam cansativos semana após semana e repetitivos ano após ano.
A vida cristã se relaciona com refletir a alegria da família do Pai, e não uma dolorosa obrigação para seus filhos. Sei que pode ser difícil acreditar para aqueles que só experimentaram a vida cristã como reuniões redundantes, líderes controladores ou relacionamentos cheios de fofoca, condenação e manipulação. A verdadeira vida do corpo, contudo, não se parece com nenhuma destas coisas.
Quando o Novo Testamento fala acerca da vida da igreja, ele não usa a linguagem da necessidade ou obrigação. Ele não força os crentes a se comprometerem com a família de Deus porque eles devem fazer isso, mas convida-os a compartilhar numa demonstração incomparável da glória de Deus. O seu relacionamento pessoal com Ele vai, na melhor das hipóteses, permitir que você experimente apenas uma pequena faceta da pessoa de Deus e sua sabedoria. Paulo comparou isto com um relance parcial como se estivéssemos olhando por um espelho embaçado (1Co 13:12). O melhor que podemos ver será apenas uma parte. Mas quando combinamos nossas partes com muitos outros membros da família, alcançamos uma imagem mais completa de Deus e de suas obras. É por isso que Paulo descreve a igreja como a plenitude de Cristo (Ef 1:23).
Quando você é amado muito além dos seus sonhos, desafiado nas maiores alturas da glória, encorajado pelo poder de Deus através dos outros, e iluminado pelas impressões proféticas destes, ninguém vai precisar ser forçado a participar. Mas somente Deus pode produzir este tipo de vida em comunidade. Se buscarmos isto uns nos outros em vez de no próprio Deus, vamos apenas nos encontrar vivendo um pobre substituto para a realidade que Deus quer nos oferecer.
É dele que precisamos.
Na realidade, não precisamos uns dos outros. Precisamos dele! A vida da igreja que não começa com esta simples premissa está destinada a perder o foco. Tão valorosa e enriquecedora como a autêntica vida no corpo é, se nós adotarmos um substituto para a presença de Deus diária operando em cada um de nós, isto se tornará um obstáculo, em vez de ser uma benção, para nossa caminhada.
Não podemos deixar que os dois se confundam. A Escritura é clara aqui. Só Ele é nossa força e proteção. Só Ele é nosso refúgio. Ele quer ensinar a cada um de nós a viver totalmente dependente dele. Nosso relacionamento com os outros deve nos encorajar neste processo, e não substituí-lo.
Recentemente eu vi a foto da mais nova caverna descoberta cuja existência foi anunciada só recentemente na mídia. Um câmara nesta caverna é grande o suficiente para conter uma cúpula com várias outras salas sobressalentes. A única forma de acesso é através de uma corda lançada por um buraco no teto. Na foto a equipe estava subindo pela corda para chegar à superfície.
Esta foto mostra a tensão dos participantes na jornada que não podiam perder o senso de dependência. Cada um dependia da corda para sair daquele ambiente. Mesmo considerando o valor que o encorajamento, experiência e instruções poderiam ter sobre os outros, cada pessoa precisaria confiar que a corda era suficiente para subir à superfície. Nenhum deles, mesmo com as melhores intenções, poderia substituir aquela corda. Ninguém poderia rastejar sobre os outros e eles poderiam subir por cima uns dos outros durante anos e ainda não encontrar uma forma de chegar à superfície.
Da mesma forma, nosso relacionamento uns com os outros só poderá ser saudável quando não estamos tentando tirar do outro o que somente Deus pode nos proporcionar. Como a corda para os escaladores, Deus nos quer dependentes dele apenas e encorajando a outros neste processo de fazerem o mesmo.
Não tenha substitutos.
A vida cristã naturalmente resulta de pessoas aprendendo a viver diariamente dependendo da presença do Pai. Esta paixão é um ingrediente essencial para as pessoas descobrirem efetivamente juntas a vida do corpo. É uma tentação pensar que se Jesus revelou a si mesmo através do corpo, depender dele é a mesma coisa que dependermos uns dos outros. Admitidamente é uma mudança sutil, mas potencialmente fatal, pelo menos espiritualmente, se tirarmos nossos olhos de Jesus e nos voltarmos para outras pessoas ou algum sistema de multiplicação de igrejas.
Uma vez que os escaladores tirem fora a corda, mesmo que se agarrem uns nos outros, um desastre vai acontecer. Somos um povo que caminha para um maior relacionamento com Ele, e maior confiança nele. Podemos ajudar uns aos outros a prosseguir para irmos mais longe do que cada um iria sozinho, mas nunca devemos esquecer para onde estamos indo. A vida cristã floresce onde pessoas estão aprendendo a depender de Deus para tudo, e este relacionamento é o que sustenta o crescimento.
Infelizmente, muitos dos que passam hoje pela igreja, involuntariamente, oferecem substitutos para esta dependência que tomam posse de seus corações. A tradição pode facilmente se tornar a tentativa de reproduzir algo que Deus fez no passado, e a maioria dos programas busca garantir que a mão de Deus agirá no futuro. Ambos nos impedem de corresponder ao que Deus está fazendo no presente, o que nos levaria a confiar mais nele. Leia Mateus 6 e aprenda o que Jesus está dizendo acerca de cada um de nós vivermos em absoluta segurança no fato que Deus tomará conta de nós e nos conduzirá para sua vida. Isto é algo que cada um de nós tem que resolver em nosso relacionamento pessoal com Ele.
Sei que aprender sozinho a confiar nele pode parecer assustador. Pode parecer mais fácil, a curto prazo, colocar nossa dependência em líderes, outros crentes ou numa maneira de fazer igreja, mas isto só vai nos conduzir a uma perpétua frustração e nos ferir quando outros quase inocentemente falharem em nossas expectativas, ou mesmo de forma mais aguerrida traem nossa confiança. A dor resultante é evidência suficiente para demonstrar que nossa dependência está no lugar errado.
Embora possamos encorajar uns aos outros neste processo, devemos tomar cuidado para não subverter isto tentando depender uns dos outros em vez dele somente. Quando as pessoas perdem a paixão de cultivar uma dependência crescente no Pai, o melhor que podem produzir pelo esforço humano é uma ilusão de igreja.
Superestimando nossas habilidades.
Esta foi uma daquelas respostas que me surpreenderam tão logo ouvi a mim mesmo dizer isso e que não acontece tão frequente para alguém que geralmente pensa três frases à frente daquela que está saindo de sua boca. Na última uma hora e meia eu estava sentado na antiga boate Tulsa com um grupo de crentes famintos conversando sobre esta incrível jornada de conhecer o Pai e andar na realidade de sua presença. Então alguém perguntou, “O que você pensa ser a maior barreira para as pessoas viverem a plenitude da vida de Deus?”.
Estou começando a pensar que a maior barreira é superestimar nossas capacidades”. Minha resposta me deixou surpreso. Não sei se eu já tinha expressado o interesse em responder uma questão parecida. Eu tive que pausar e pensar por um momento se aquela era minha resposta final.
Por mais que eu pensasse nisto, contudo, percebi que Deus havia iluminado algo que Ele estava trabalhando em minha vida. Eu costumava pensar que o esforço diligente aplicado corretamente ao processo poderia resolver qualquer coisa. Mas ao longo dos anos a falência de meus melhores esforços me convenceu que ao menos que o Senhor edifique a casa, os construtores trabalham em vão (Sl 127:1). A alegria desta vida é encontrada em confiar nele e seguir sua liderança em um relacionamento diário de crescente confiança.
Conversamos bastante naquela noite sobre a pressão que colocamos em nós mesmos e nos outros para reproduzir esta coisa maravilhosa que chamamos de vida no Espírito, mais convencido eu fiquei que superestimar nossas próprias capacidades complica nossa caminhada em vez de nos libertar. Isto nos leva a sentir presos às nossas falhas e nos orgulhar nos sucessos. Isto nos faz manipular os outros a fazer o que pensamos ser o melhor e encoraja cada um a por seus olhos nas pessoas em vez de Jesus. Isto nos leva a um esforço desnecessário e desperdício de energia, pois só vamos saber como fazer nosso trabalho quando entendermos como Deus trabalha. Pessoas que confiam nas próprias capacidades nunca descobrirão a realidade da vida em Deus e a alegria de compartilhar esta vida com os outros.
Nem mesmo um pouco.
A vida de Deus deixou o mundo de Paulo totalmente de cabeça para baixo, de um religioso comprometido que se gabava em suas habilidades e se orgulhava em suas realizações para alguém que não tinha mais nenhuma confiança na carne (Fp 3:1-11). Você gostaria de ter comunhão com Paulo antes que Deus tivesse alcançado sua vida? Teria sido insuportável. Ele pensava que estava sempre certo, mais perto de Deus que qualquer outro e ele tinha o direito de te matar caso você não enxergasse da mesma forma que ele. É claro que hoje usamos muito mais as acusações e fofocas que o apedrejamento, mas buscando alcançar o mesmo resultado.
Imagine o quanto foi diferente depois que Jesus cativou Paulo com seu penetrante amor. Ele atraiu Paulo para perto de si e o transformou de alguém confiante em suas próprias capacidades, em alguém que reconhecia que apenas Jesus poderia realizar qualquer coisa que pudesse permanecer. Ele é aquele que atrai pessoas para a verdade. Ele é aquele que muda vidas. Ele conecta seu corpo de forma que alcance os propósitos de seu reino.
Paulo pode então perceber que seus melhores esforços eram nada mais que esterco, sem valor algum para a revelação da glória de Deus em si mesmo e nos outros. Ele descobriu que a justiça que o esforço humano produz é repugnante e simplesmente se encantou com a justiça que sua crescente confiança em Deus produzia.
Desde que ele perdera a confiança em sua própria carne, ele não pressionava os outros a confiarem em si mesmos. Ele sabia que tudo no reino deveria fluir a partir do agir de Deus, e nós podemos apenas corresponder a Ele, e não produzir sua vida por nós mesmos. Isto inclui a vida no corpo. Se vou aprender a compartilhar sua vida em relacionamentos significativos com outros crentes, nossa dependência deve estar nele. Não podemos fazer isso nem mesmo seguindo o que julgamos ser o padrão bíblico para a vida da igreja. Enquanto eles podem nos ajudar a entender a forma como Deus trabalha, eles não vão por si mesmos compartilhar conosco a glória da sua vida. Somente o Cabeça da igreja pode edificar sua igreja. Nós podemos apenas construir ilusões sobre isso.
Compartilhando a dependência em Deus.
Eu gastei algum tempo recentemente com um grupo de pessoas com o propósito de ser um facilitador para grupos caseiros em cada uma de suas casas. Coloquei um cenário diante deles. O que aconteceu foi que seis meses depois dois grupos estavam explodindo nos relacionamentos, com pessoas empolgadas, dois deles estavam apenas se mantendo e outros dois estavam totalmente mortos e entediantes. O que poderíamos concluir em relação aos facilitadores destes grupos e o que poderia ser feito sobre isso?
A sabedoria popular nos diria que os grupos com mais vitalidade eram conduzidos por bons líderes, e aqueles que estavam lutando eram conduzidos por líderes fracos. Mas não é assim que Deus vê isso. Alguns grupos podem parecer vitais apenas porque seus líderes são melhores em fabricar uma ilusão de vida cristã. Suas personalidades vivazes ou seus dons atraem seguidores, mas se isto reflete ou não o verdadeiro compartilhar de vida entre os crentes é outro assunto. Da mesma forma, aqueles grupos que parecem estar lutando podem ter excelentes facilitadores, mas eles estão tentando realizar algo que Deus não está fazendo.
Jesus disse que só fazia as coisas que via o Pai fazer. Infelizmente, a maneira como muitos agem na igreja hoje é através de olhar para onde o Pai parece não estar agindo e tentar fazer algo acontecer. Os resultados não deveriam nos surpreender. O esforço humano não pode produzir os frutos de Deus, mas corações rendidos podem participar em tudo o que Deus preparou para eles.
Dizer que não deveríamos colocar nossa dependência uns nos outros, não estou nos escusando de sermos pessoas dignas de confiança, irmãos e irmãs confiáveis. As mais profundas experiências de vida no corpo acontecem onde pessoas são livres o suficiente de suas próprias agendas e quebrantadas para serem confiáveis em tempos de dificuldade, genuínas para o grupo e verdadeiras com suas palavras mesmo que isto tenha um preço a pagar. Mas se você permite a si mesmo crescer dependente deles, você irá aos poucos mudar seu próprio relacionamento com Jesus. De fato, pessoas que conhecem melhor a Jesus jamais sonhariam em deixar você fazer isso. Eles irão te encorajar a manter sua dependência firmemente nele, pois esta é a única maneira de viver!
Eis a verdade: a vida no corpo genuína e autêntica é um dom que Deus nos deu, e não é algo que podemos orquestrar pelo esforço humano, mesmo seguindo princípios bíblicos. Ao invés de tentar inventar isso, estaríamos melhor se pedíssemos a Ele para nos mostrar a cada dia como Ele está nos colocando em seu corpo, com quem quer que nos relacionemos, e como poderemos encorajar a cada um a confiar em Deus com mais liberdade.
Seu trabalho é simplesmente seguir a Ele. Quando você está no corpo na forma que Deus deseja, você conhecerá a alegria de compartilhar uma dependência crescente nele, com outros membros de seu corpo.

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