VIVENDO COMO IGREJA RELACIONAL
Escrito por Wayne Jacobsen. Traduzido por Ezequiel Netto
09 -
Dependência Compartilhada.
Abril
de 2003.
Na última década encontrei milhares de
crentes em todo o mundo e assisti cuidadosamente como eles buscam viver a
comunhão cristã em vários tipos de grupos - desde dois ou três em comunhão
espontânea, ou igrejas centenárias, e tudo mais acerca disso. Em muitos lugares
tive o prazer de encontrar o povo de Deus compartilhando sua realidade em
unidade, de como cada um crescia em conhecê-lo mais e mais. Em outros lugares,
assisti em tristeza como eles se esforçavam para repetir alguma forma da vida
do Novo Testamento, mas, a despeito de todo esforço e diligência, eles
continuamente terminavam desapontados e frustrados.
Pelo fato de desejar que todos conheçam
a alegria de viver a vida de Cristo, estou sempre tentando identificar o que
faz a diferença. Por que alguns grupos experimentam a plenitude do Senhor em
unidade, e outros a perderam? Alguns poderiam dizer que a presença de Jesus faz
toda a diferença. Mesmo que isso possa ser parcialmente verdadeiro, eu o
encontro presente em todo lugar, mesmo ao redor das pessoas mais aprisionadas,
convidando-as para mais perto dele.
Outros poderiam dizer que é porque
alguns encontraram o caminho que Deus mostrou para eles andar, e outros seguem
as tradições de homens. Isto também pode ser parcialmente verdadeiro, pois
percebi em uma ocasião onde pessoas usando os princípios bíblicos mais corretos
tinham um relacionamento bastante disfuncional, e pessoas tão ingênuas, como
crianças espirituais, vivendo um momento significativo em experimentar a
alegria da obra de Deus.
Não, no final, isso não é sabedoria,
maturidade, os princípios corretos ou até mesmo o esforço e compromisso.
Pessoas que vivem a vida de Deus na forma mais saudável estão aprendendo a
beleza da dependência compartilhada. E não estou dizendo que elas aprenderam a
depender de um líder, de cada um ou de uma certa igreja estruturada, mas que eles
estão aprendendo juntos em como depender do Pai e desta forma participarem de
sua obra ao redor deles.
Precisamos
de comunhão?
Na maior parte da minha vida eu ouvi
pessoas falando sobre a vida cristã com a linguagem de necessidade. “Um bom cristão é aquele que frequenta os
cultos sempre que o corpo se reúne”. “Você
precisa vir para a igreja” ou você cairá em engano. A parte ruim da vida
cristã é que a única forma de nos motivar a participar é porque devemos.
Toda essa conversa de obrigação e compromisso me leva a pensar que a força
motriz por trás da “frequência à igreja”
nada mais é do que miseráveis que amam a companhia. Encarar isso, sentados
durante o mesmo culto toda semana, parece entediante. Mesmo os mais incríveis
pregadores que já ouvi se tornam cansativos semana após semana e repetitivos
ano após ano.
A vida cristã se relaciona com refletir
a alegria da família do Pai, e não uma dolorosa obrigação para seus filhos. Sei
que pode ser difícil acreditar para aqueles que só experimentaram a vida cristã
como reuniões redundantes, líderes controladores ou relacionamentos cheios de
fofoca, condenação e manipulação. A verdadeira vida do corpo, contudo, não se
parece com nenhuma destas coisas.
Quando o Novo Testamento fala acerca da
vida da igreja, ele não usa a linguagem da necessidade ou obrigação. Ele não
força os crentes a se comprometerem com a família de Deus porque eles devem
fazer isso, mas convida-os a compartilhar numa demonstração incomparável da
glória de Deus. O seu relacionamento pessoal com Ele vai, na melhor das
hipóteses, permitir que você experimente apenas uma pequena faceta da pessoa de
Deus e sua sabedoria. Paulo comparou isto com um relance parcial como se
estivéssemos olhando por um espelho embaçado (1Co 13:12). O melhor que podemos ver
será apenas uma parte. Mas quando combinamos nossas partes com muitos outros
membros da família, alcançamos uma imagem mais completa de Deus e de suas
obras. É por isso que Paulo descreve a igreja como a plenitude de Cristo (Ef
1:23).
Quando você é amado muito além dos seus
sonhos, desafiado nas maiores alturas da glória, encorajado pelo poder de Deus
através dos outros, e iluminado pelas impressões proféticas destes, ninguém vai
precisar ser forçado a participar. Mas somente Deus pode produzir este tipo de
vida em comunidade. Se buscarmos isto uns nos outros em vez de no próprio Deus,
vamos apenas nos encontrar vivendo um pobre substituto para a realidade que
Deus quer nos oferecer.
É
dele que precisamos.
Na realidade, não precisamos uns dos
outros. Precisamos dele! A vida da igreja que não começa com esta simples
premissa está destinada a perder o foco. Tão valorosa e enriquecedora como a
autêntica vida no corpo é, se nós adotarmos um substituto para a presença de
Deus diária operando em cada um de nós, isto se tornará um obstáculo, em vez de
ser uma benção, para nossa caminhada.
Não podemos deixar que os dois se
confundam. A Escritura é clara aqui. Só Ele é nossa força e proteção. Só Ele é
nosso refúgio. Ele quer ensinar a cada um de nós a viver totalmente dependente
dele. Nosso relacionamento com os outros deve nos encorajar neste processo, e
não substituí-lo.
Recentemente eu vi a foto da mais nova
caverna descoberta cuja existência foi anunciada só recentemente na mídia. Um
câmara nesta caverna é grande o suficiente para conter uma cúpula com várias
outras salas sobressalentes. A única forma de acesso é através de uma corda
lançada por um buraco no teto. Na foto a equipe estava subindo pela corda para
chegar à superfície.
Esta foto mostra a tensão dos
participantes na jornada que não podiam perder o senso de dependência. Cada um
dependia da corda para sair daquele ambiente. Mesmo considerando o valor que o
encorajamento, experiência e instruções poderiam ter sobre os outros, cada
pessoa precisaria confiar que a corda era suficiente para subir à superfície.
Nenhum deles, mesmo com as melhores intenções, poderia substituir aquela corda.
Ninguém poderia rastejar sobre os outros e eles poderiam subir por cima uns dos
outros durante anos e ainda não encontrar uma forma de chegar à superfície.
Da mesma forma, nosso relacionamento uns
com os outros só poderá ser saudável quando não estamos tentando tirar do outro
o que somente Deus pode nos proporcionar. Como a corda para os escaladores,
Deus nos quer dependentes dele apenas e encorajando a outros neste processo de
fazerem o mesmo.
Não
tenha substitutos.
A vida cristã naturalmente resulta de
pessoas aprendendo a viver diariamente dependendo da presença do Pai. Esta paixão
é um ingrediente essencial para as pessoas descobrirem efetivamente juntas a
vida do corpo. É uma tentação pensar que se Jesus revelou a si mesmo através do
corpo, depender dele é a mesma coisa que dependermos uns dos outros. Admitidamente
é uma mudança sutil, mas potencialmente fatal, pelo menos espiritualmente, se
tirarmos nossos olhos de Jesus e nos voltarmos para outras pessoas ou algum
sistema de multiplicação de igrejas.
Uma vez que os escaladores tirem fora a
corda, mesmo que se agarrem uns nos outros, um desastre vai acontecer. Somos um
povo que caminha para um maior relacionamento com Ele, e maior confiança nele.
Podemos ajudar uns aos outros a prosseguir para irmos mais longe do que cada um
iria sozinho, mas nunca devemos esquecer para onde estamos indo. A vida cristã
floresce onde pessoas estão aprendendo a depender de Deus para tudo, e este
relacionamento é o que sustenta o crescimento.
Infelizmente, muitos dos que passam hoje
pela igreja, involuntariamente, oferecem substitutos para esta dependência que
tomam posse de seus corações. A tradição pode facilmente se tornar a tentativa
de reproduzir algo que Deus fez no passado, e a maioria dos programas busca
garantir que a mão de Deus agirá no futuro. Ambos nos impedem de corresponder
ao que Deus está fazendo no presente, o que nos levaria a confiar mais nele.
Leia Mateus 6 e aprenda o que Jesus está dizendo acerca de cada um de nós
vivermos em absoluta segurança no fato que Deus tomará conta de nós e nos
conduzirá para sua vida. Isto é algo que cada um de nós tem que resolver em
nosso relacionamento pessoal com Ele.
Sei que aprender sozinho a confiar nele
pode parecer assustador. Pode parecer mais fácil, a curto prazo, colocar nossa
dependência em líderes, outros crentes ou numa maneira de fazer igreja, mas
isto só vai nos conduzir a uma perpétua frustração e nos ferir quando outros
quase inocentemente falharem em nossas expectativas, ou mesmo de forma mais
aguerrida traem nossa confiança. A dor resultante é evidência suficiente para
demonstrar que nossa dependência está no lugar errado.
Embora possamos encorajar uns aos outros
neste processo, devemos tomar cuidado para não subverter isto tentando depender
uns dos outros em vez dele somente. Quando as pessoas perdem a paixão de cultivar
uma dependência crescente no Pai, o melhor que podem produzir pelo esforço
humano é uma ilusão de igreja.
Superestimando
nossas habilidades.
Esta foi uma daquelas respostas que me
surpreenderam tão logo ouvi a mim mesmo dizer isso e que não acontece tão
frequente para alguém que geralmente pensa três frases à frente daquela que
está saindo de sua boca. Na última uma hora e meia eu estava sentado na antiga
boate Tulsa com um grupo de crentes famintos conversando sobre esta incrível
jornada de conhecer o Pai e andar na realidade de sua presença. Então alguém
perguntou, “O que você pensa ser a maior
barreira para as pessoas viverem a plenitude da vida de Deus?”.
“Estou
começando a pensar que a maior barreira é superestimar nossas capacidades”.
Minha resposta me deixou surpreso. Não sei se eu já tinha expressado o
interesse em responder uma questão parecida. Eu tive que pausar e pensar por um
momento se aquela era minha resposta final.
Por mais que eu pensasse nisto, contudo,
percebi que Deus havia iluminado algo que Ele estava trabalhando em minha vida.
Eu costumava pensar que o esforço diligente aplicado corretamente ao processo
poderia resolver qualquer coisa. Mas ao longo dos anos a falência de meus
melhores esforços me convenceu que ao menos que o Senhor edifique a casa, os
construtores trabalham em vão (Sl 127:1). A alegria desta vida é encontrada em
confiar nele e seguir sua liderança em um relacionamento diário de crescente
confiança.
Conversamos bastante naquela noite sobre
a pressão que colocamos em nós mesmos e nos outros para reproduzir esta coisa
maravilhosa que chamamos de vida no Espírito, mais convencido eu fiquei que
superestimar nossas próprias capacidades complica nossa caminhada em vez de nos
libertar. Isto nos leva a sentir presos às nossas falhas e nos orgulhar nos
sucessos. Isto nos faz manipular os outros a fazer o que pensamos ser o melhor
e encoraja cada um a por seus olhos nas pessoas em vez de Jesus. Isto nos leva
a um esforço desnecessário e desperdício de energia, pois só vamos saber como
fazer nosso trabalho quando entendermos como Deus trabalha. Pessoas que confiam
nas próprias capacidades nunca descobrirão a realidade da vida em Deus e a
alegria de compartilhar esta vida com os outros.
Nem
mesmo um pouco.
A vida de Deus deixou o mundo de Paulo
totalmente de cabeça para baixo, de um religioso comprometido que se gabava em
suas habilidades e se orgulhava em suas realizações para alguém que não tinha
mais nenhuma confiança na carne (Fp 3:1-11). Você gostaria de ter comunhão com
Paulo antes que Deus tivesse alcançado sua vida? Teria sido insuportável. Ele
pensava que estava sempre certo, mais perto de Deus que qualquer outro e ele
tinha o direito de te matar caso você não enxergasse da mesma forma que ele. É
claro que hoje usamos muito mais as acusações e fofocas que o apedrejamento,
mas buscando alcançar o mesmo resultado.
Imagine o quanto foi diferente depois
que Jesus cativou Paulo com seu penetrante amor. Ele atraiu Paulo para perto de
si e o transformou de alguém confiante em suas próprias capacidades, em alguém
que reconhecia que apenas Jesus poderia realizar qualquer coisa que pudesse permanecer.
Ele é aquele que atrai pessoas para a verdade. Ele é aquele que muda vidas. Ele
conecta seu corpo de forma que alcance os propósitos de seu reino.
Paulo pode então perceber que seus
melhores esforços eram nada mais que esterco, sem valor algum para a revelação
da glória de Deus em si mesmo e nos outros. Ele descobriu que a justiça que o
esforço humano produz é repugnante e simplesmente se encantou com a justiça que
sua crescente confiança em Deus produzia.
Desde que ele perdera a confiança em sua
própria carne, ele não pressionava os outros a confiarem em si mesmos. Ele
sabia que tudo no reino deveria fluir a partir do agir de Deus, e nós podemos
apenas corresponder a Ele, e não produzir sua vida por nós mesmos. Isto inclui
a vida no corpo. Se vou aprender a compartilhar sua vida em relacionamentos
significativos com outros crentes, nossa dependência deve estar nele. Não
podemos fazer isso nem mesmo seguindo o que julgamos ser o padrão bíblico para
a vida da igreja. Enquanto eles podem nos ajudar a entender a forma como Deus
trabalha, eles não vão por si mesmos compartilhar conosco a glória da sua vida.
Somente o Cabeça da igreja pode edificar sua igreja. Nós podemos apenas
construir ilusões sobre isso.
Compartilhando
a dependência em Deus.
Eu gastei algum tempo recentemente com
um grupo de pessoas com o propósito de ser um facilitador para grupos caseiros
em cada uma de suas casas. Coloquei um cenário diante deles. O que aconteceu
foi que seis meses depois dois grupos estavam explodindo nos relacionamentos,
com pessoas empolgadas, dois deles estavam apenas se mantendo e outros dois estavam
totalmente mortos e entediantes. O que poderíamos concluir em relação aos
facilitadores destes grupos e o que poderia ser feito sobre isso?
A sabedoria popular nos diria que os
grupos com mais vitalidade eram conduzidos por bons líderes, e aqueles que
estavam lutando eram conduzidos por líderes fracos. Mas não é assim que Deus vê
isso. Alguns grupos podem parecer vitais apenas porque seus líderes são
melhores em fabricar uma ilusão de vida cristã. Suas personalidades vivazes ou
seus dons atraem seguidores, mas se isto reflete ou não o verdadeiro
compartilhar de vida entre os crentes é outro assunto. Da mesma forma, aqueles
grupos que parecem estar lutando podem ter excelentes facilitadores, mas eles
estão tentando realizar algo que Deus não está fazendo.
Jesus disse que só fazia as coisas que
via o Pai fazer. Infelizmente, a maneira como muitos agem na igreja hoje é
através de olhar para onde o Pai parece não estar agindo e tentar fazer algo
acontecer. Os resultados não deveriam nos surpreender. O esforço humano não
pode produzir os frutos de Deus, mas corações rendidos podem participar em tudo
o que Deus preparou para eles.
Dizer que não deveríamos colocar nossa
dependência uns nos outros, não estou nos escusando de sermos pessoas dignas de
confiança, irmãos e irmãs confiáveis. As mais profundas experiências de vida no
corpo acontecem onde pessoas são livres o suficiente de suas próprias agendas e
quebrantadas para serem confiáveis em tempos de dificuldade, genuínas para o
grupo e verdadeiras com suas palavras mesmo que isto tenha um preço a pagar.
Mas se você permite a si mesmo crescer dependente deles, você irá aos poucos
mudar seu próprio relacionamento com Jesus. De fato, pessoas que conhecem
melhor a Jesus jamais sonhariam em deixar você fazer isso. Eles irão te
encorajar a manter sua dependência firmemente nele, pois esta é a única maneira
de viver!
Eis a verdade: a vida no corpo genuína e
autêntica é um dom que Deus nos deu, e não é algo que podemos orquestrar pelo
esforço humano, mesmo seguindo princípios bíblicos. Ao invés de tentar inventar
isso, estaríamos melhor se pedíssemos a Ele para nos mostrar a cada dia como Ele
está nos colocando em seu corpo, com quem quer que nos relacionemos, e como
poderemos encorajar a cada um a confiar em Deus com mais liberdade.
Seu trabalho é simplesmente seguir a Ele.
Quando você está no corpo na forma que Deus deseja, você conhecerá a alegria de
compartilhar uma dependência crescente nele, com outros membros de seu corpo.
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