VIVENDO COMO IGREJA RELACIONAL
Escrito por Wayne Jacobsen. Traduzido por Ezequiel Netto
01 - Julho de 1999.
"Então, após 2.000 anos, como você pensa que
Ele está fazendo?"
Eu não resisto
em fazer essa pergunta sempre que estudo Mateus 16 com um grupo de crentes. Lá
encontramos a única instrução registrada que Jesus deixou para seus discípulos
acerca da igreja: “Eu edificarei a minha
igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Ele não pediu
que eles fizessem isso, e nem deixou um esquema de uma organização. Ele
simplesmente disse que Ele mesmo edificaria a sua igreja e que ela seria forte
o bastante para resistir a qualquer ataque das trevas.
Então, só isso
parece suficiente para avaliar como Ele está fazendo. Se Ele está
empenhado nesse projeto por quase 2000 anos, o que nós deveríamos estar
demonstrando? Eu pergunto isso para todo tipo de pessoas, mesmo nas convenções
pastorais. Quando pergunto, posso sentir a tensão no ambiente. As pessoas ficam
desconcertadas, com um sorriso meio sem graça. Eles sabem bem que não estão
agindo corretamente, que a igreja está fragmentada por divisões, escândalos de
imoralidade, vilipendiada por sua arrogância, exposta por suas prioridades
desfocadas, e longe de dar continuidade ao ministério de Jesus demonstrado nos
evangelhos.
Também temos
que concluir que Jesus não fez um bom trabalho, ou considerar que existe uma
grande diferença entre o que Ele chama igreja e o que nós chamamos.
Eu ficava desiludido sobre o que eu
pensava ser a igreja de Deus. Vendo seu povo perdido em prioridades que estavam
distantes da realidade e fazendo coisas que pareciam beneficiar mais a
instituição do que estender o reino de Deus em nossas vidas ou no mundo, eu
lamentava pela triste situação da igreja.
Nunca mais! Recentemente eu passei a
perceber que nossas instituições religiosas não são a igreja da forma que Deus
vê. O que Deus chama “igreja” são todas as pessoas que
reconhecem ao seu Filho como Senhor e Líder. Eles estão espalhados por
todo o mundo, crescendo em conhecer a Deus cada vez mais e em demonstrar seu
caráter nesse mundo. Esta é a noiva que Deus está preparando para seu próprio
Filho. Eu vejo partes dela em todo o mundo. Longe de ser fraca, dividida e
corrompida, a igreja de Jesus Cristo está crescendo a cada dia em beleza, força
e poder. Como Jesus está fazendo para edificar sua igreja? Inacreditável! Seu
povo existe em cada canto da Terra, e eles encontram formas de se comunicar uns
com os outros, glorificando a Deus e nada consegue enfraquecer esse povo.
O
que Deus chama Igreja.
Para ver isso, contudo, devemos olhar
além das instituições e prédios que chamamos de igreja e encontrar pessoas que estão vivendo ligadas em Deus. Por favor, não
entenda mal essa afirmação. Não estou falando que as instituições são ruins. Só
estou te encorajando a não confundi-las com igreja. Sim, muitas pessoas que as
frequentam são parte da igreja de Deus, e crescem em conhecê-lo cada dia mais.
Esta não é a questão, mas para ver o mover de Deus neste mundo, você precisa
olhar além dos grupos que se autodenominam igreja, e ver o quadro maior - todos
aqueles que Deus está chamando para si mesmo por meio de sua cidade e de toda a
Terra.
Se não for dessa forma, vamos confundir
nosso sistema religioso com a igreja e perder a grande obra que Deus está
fazendo em preparar Ele
mesmo a noiva. Temos que
ter o cuidado de chamar igreja o que Deus chama de igreja, ou vamos
terminar falando coisas que não têm nenhum sentido.
Por exemplo, recentemente eu estive com
um casal que, há pouco tempo atrás, simplesmente deram um basta. Cansados dos
tapinhas nas costas, entediados por serem espectadores nas manhãs de domingo,
não suportando mais serem manipulados em fazer mais para Deus, esgotados com
tantas responsabilidades, então eles me falaram que deixaram a igreja. “Como
puderam fazer isso?”, eu perguntei. “A
igreja não é algo que você possa deixar, ao menos que abandonem a Jesus”.
Certamente que não foi isso que fizeram, e estavam querendo dizer que deixaram
a instituição religiosa na esperança de encontrar uma mais autêntica expressão
da vida de Cristo do que no grupo que eles estavam participando. Mas isso é uma
coisa muito diferente de “abandonar a
igreja”. Vamos ter cuidado com nossos termos. Quando organizações
religiosas adotam o termo “igreja”,
fica fácil nos confundirmos, pensando que isso é o que realmente elas são. Mas
elas não são. Poderiam ser um ajuntamento de pessoas que fazem parte da igreja,
mas em si mesmas elas não são igreja.
A igreja de Jesus Cristo nunca poderia
estar contida em nenhuma organização e, de fato, da maneira que Ele age, torna
impossível enquadrar a igreja mesmo na mais perfeita estrutura constituída e/ou
construída.
Não há espaço para andarilhos
solitários.
Sei que você
provavelmente ouviu pessoas falando coisas, mostrando que caminham sozinhas,
mas parecem que nunca prosperam na vida de Jesus. E por um longo tempo o povo
de Deus age dessa maneira. Da mesma forma que uma instituição não pode ser
igreja só por declarar isso, os que caminham sozinhos também não.
Quem é a
igreja nesse mundo? Não são aqueles que vivem a mesma confissão de Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo”?
Você é parte da igreja quando vive debaixo do Cabeça, seguindo a Ele como seu
Senhor e líder. Você também não pode ser igreja por seguir alguém que faça isso
- você mesmo deve fazê-lo.
E seguir a Ele
não te conduzirá para a independência. Mas como é isso? Deus é comunhão e em
qualquer lugar onde Ele é conhecido uma verdadeira comunidade surgirá ao redor
de seu povo. Pai, Filho e Espírito Santo têm permanecido em verdadeira comunhão
por toda a eternidade, em pura alegria, compartilhando vida, amor e glória
entre si mesmos. Você não consegue ser tocado por seu amor sem ser atraído em
direção às pessoas que Deus colocou em seu caminho.
Quando os irmãos e irmãs estão ligados
uns aos outros em verdadeira comunhão, logo descobrem que o que conhecem de
Deus é sempre em parte, como através de uma fresta em uma janela embaçada. Mas
na comunhão entre crentes que estão crescendo em conhecer a Deus cada vez mais,
há plenitude de sabedoria e revelação. Por isso que Paulo disse em Efésios 1
que a igreja é “a plenitude daquele que
enche tudo em todos”.
Imagine um grupo de pessoas
experimentando essa incrível promessa! A razão pela qual nossa visão de Deus é geralmente
limitada é porque as instituições só são capazes de unir pessoas que vejam a
mesma coisa e da mesma forma. A visão que eles têm através das lentes
embaçadas nunca aumenta em clareza, e eles ficam cada vez mais convencidos que
o que estão vendo é mais perfeito do que qualquer outro vê.
O tipo de comunidade de Deus é aquela
que surge entre pessoas que estão buscando uma vibrante amizade com o Deus
vivo. E eu pensava que a vida de Deus fluía para as pessoas através da nossa
então chamada estrutura da igreja. Mas não é dessa forma. Não existe vida na
igreja - só existe vida em Jesus.
Aqueles que se reúnem para ficar
alimentados ou são bombeados para atravessar mais uma semana perdem o
verdadeiro sentido do que é uma igreja relacional. Nós só podemos encontrar
vida em Jesus e se de fato encontramos, nossa conexão com outros crentes nos
permite compartilhar essa vida juntos. “Igreja”
jamais pode ser um substituto de conhecer a Deus. Estar conformado a um sistema
religioso no qual nos encontramos e do qual gostamos não quer dizer que estamos
seguindo a Jesus. Ele está oferecendo a cada um de nós a alegria de conhecê-lo
mais e mais a cada dia.
Dinâmica
Institucional.
É por esse motivo que crescer em um relacionamento
pessoal com Deus é o ponto mais importante no cristianismo relacional.
Ele só pode começar se as pessoas estiverem dispostas a conhecerem e seguirem
ao Deus Vivo. À medida que nosso relacionamento com Ele vai crescendo, vamos
aprendendo a nos relacionar com outros crentes. A comunhão não funciona de
outra maneira. Após vários anos tentando desenvolver comunhão, só causamos
desilusão para aqueles que realmente querem conhecer a Deus melhor a cada dia.
Gene Edwards estava correto quando disse
que o modelo de vida para
a igreja é fundamentado no relacionamento de Jesus com seus discípulos.
Ele nunca os ensinou como fazer um culto ou como construir um esquema
organizacional. Ele nunca lhes disse que a vida da igreja consistia em fazer
reuniões, se conformar a algum grupo étnico, ou regimentar pessoas para o mais
bem intencionado programa.
Em vez disso, Ele ensinou como se
relacionar com Deus como Pai, e entre si como irmãos e irmãs. A linguagem usada
com eles (e a mesma usada por Paulo em suas cartas) não era a linguagem das
instituições, mas a linguagem de uma família.
Pelo fato de o que chamamos “igreja” hoje em dia operar numa dinâmica
institucional, muitos crentes atuais não têm a mínima ideia do que Deus
planejou de como seria a vida da igreja. Os objetivos das instituições são os credos, programas e
práticas com o objetivo de conformar as pessoas na “maneira que as coisas são feitas aqui”. Geralmente, um grupo
de líderes é mais valorizado e recebe maior atenção, e as pessoas são
encorajadas a submeterem-se inquestionavelmente aos ensinamentos e conselhos
deles.
A
dinâmica institucional encoraja as pessoas a viverem um personagem, e não as
liberta para serem verdadeiras. Fofocas e
um jogo de influências abundam à medida que as pessoas tentam alcançar uma
posição, e muitas vezes à custa de outros. A mesma coisa é vista no mundo
coorporativo, e esta é a base de vida de uma instituição. E se você, por algum
motivo, deixar uma instituição, será, na maioria das vezes, ignorado. Muitas
pessoas que deixaram uma instituição religiosa comentaram que se sentiram como
se deixassem de existir, mesmo para aquelas pessoas que consideravam amigos
íntimos.
Dinâmica
Familiar.
Viver como família, contudo, é
desenvolver algo com métodos e alvos completamente diferentes. Numa família
saudável, as pessoas não estão cooperando para alcançar um fim. Eles estão
simplesmente aprendendo a relacionarem-se uns com os outros em amor. Numa
família saudável, a diversidade não é apenas permitida, mas é celebrada. As
pessoas não se relacionam umas com as outras por meio de uma cadeia de
autoridade, mas com suas capacidades e habilidades pessoais. Se o carro de
alguém começa a fazer barulhos estranhos, eles não se sentem obrigados a chamar
um irmão mais velho para resolver isso. Eles já sabem quem tem maior habilidade
com carros na família e buscam a ajuda deste.
Famílias saudáveis não pressionam as
pessoas para adotarem a mesma forma, mas deixam pessoas crescerem juntas, cada
uma no seu próprio passo. Eles têm a liberdade de discordar sem se dividirem em
várias famílias. Eles participam juntos da caminhada de cada um, servindo com
seus dons, discernimento espiritual e habilidades, sempre que necessário,
ajudando uns aos outros sem se importar com que tipo de problema estão
passando.
Muitos cristãos hoje estão encontrando um
ânimo renovado no que as Escrituras chamam de “uns aos outros” e o Novo Testamento nos encoraja a praticar. Eles
estão descobrindo que ensinar, aconselhar, servir, serem hospitaleiros,
compartilhar confissões, orar pelos necessitados, admoestar ao egoísta, e tudo
o mais, são coisas que o corpo de Cristo pode fazer uns com os outros, e não precisamos contratar profissionais que
fariam isso por nós.
Como estamos vivendo juntos em Jesus, Ele
compartilha seus dons por meio de todo o corpo, onde cada um dá e recebe de
Deus, por meio dos outros. É por isso que alguns dizem que, nas manhãs de
domingo, há uma maior expressão da “igreja”
nos estacionamentos do que se permite acontecer durante os cultos matinais.
Se você já vivenciou a espontaneidade verdadeira,
a comunhão em um grupo de cristãos, você não precisa me contar o quão rica é essa
experiência. A alegria de caminhar juntos, sem fingimento algum, de ter pessoas
que te suportam nas fraquezas, que te fortalecem com seus dons, é altamente
recompensador. Sim, com certeza, muito disso pode acontecer entre os crentes
que se reúnem no ambiente institucional, mas isso nem sempre acontece.
O importante é que você reconheça a
dinâmica familiar quando a vê acontecer, e a abrace com todo o coração. Por outro
lado, ao reconhecer a triste realidade da dinâmica institucional, que não tem
nada a ver com o reino de Deus, você deve se afastar sem culpa alguma.
Da mesma maneira que Paulo encorajou os
crentes a caminharem juntos, de forma que se edificassem mutuamente, ele também
orientou que tivessem a liberdade de não andar em ambiente que fosse destrutivo
para suas vidas. Se você sentir que deva se afastar desse grupo, não se condene
e nem deixe que eles te condenem. Você não está deixando a igreja com isso, mas talvez seja o próprio Deus que pode
estar te preparando para encontrar a igreja na mais autêntica forma que você já
sonhou.
Encontrando
a vida do Corpo.
Então, para onde devemos ir para
encontrar a vida da igreja relacional? Pra Jesus, é claro! Isso pode parecer
muito simplista, mas pra onde mais você poderia ir? Confie que Jesus irá
providenciar a comunhão que Ele quer que você tenha. Lembre-se, sua igreja é
edificada com aqueles que estão aprendendo a confiar nele.
Você pode descobrir a liberdade de viver
a igreja relacional exatamente onde você está. Não se preocupe se as pessoas
estão ou não compartilhando das suas mesmas perspectivas. Simplesmente busque
oportunidades de compartilhar a vida com pessoas famintas de conhecer a Deus
mais e mais.
Podemos descobrir, contudo, que algumas
estruturas institucionais destroem aqueles que têm fome de seguir a Deus
livremente e Ele pode chamá-los para fora de lá. Muitas pessoas deixam uma
instituição quebrada, só pra se afundar numa outra, ou começar uma nova, à sua
maneira. Aconselho você a ir devagar, e não fazer nada até Deus lhe falar
claramente.
Testemunhe para as pessoas com as quais
Deus está te conectando. Alguns podem ser velhos amigos e, outros, novas
aquisições. Não se apresse a começar nada. Aprenda a reconhecer o que Deus está
fazendo em sua região para trazer conexões significativas entre cristãos que têm
fome de conhecer a Ele - sua integridade, sua graça, sua vida. Ele tem pessoas
que caminharão contigo e te animarão a crescer sem te manipular para te
conformar com as expectativas delas.
O que você experimenta em sua localidade
pode ser muito diferente do que acontece em outros lugares. Pode acontecer numa
reunião matinal de domingo, com os vizinhos da rua, em grupos caseiros, ou com
pessoas que Deus colocou em seu caminho. Quando começar a acontecer, você
descobrirá que a vida da igreja jamais poderia se expressar em duas ou três
reuniões semanais. Ela acontece todos os dias, como vivemos nossa vida em Deus
e a compartilhamos com os outros.
Como você já leu anteriormente, Jesus
tem várias maneiras de chamar os cristãos para compartilharem suas vidas
juntos. No próximo assunto veremos o que a Bíblia quis dizer com “não deixando de congregar” e algumas
maneiras que Deus usa para convidar pessoas a compartilharem suas vidas juntas.
Sei que poderia ser desencorajador
buscar a profundidade da vida do corpo, enquanto são poucos os que têm fome
disso atualmente. Mas se Jesus não tirou de você a paixão por isso, Ele vai dar
um jeito de fazer acontecer. Porém, pode não vir exatamente da forma que você
está esperando. Então, não foque tão firme numa direção, pois você poderia
perder outras portas que Ele está abrindo. Conte a Ele que está faminto por
conhecer a autêntica vida do corpo do jeito que Ele compartilhava com os
discípulos. Peça para Ele te conectar com pessoas apaixonadas por viver a
dinâmica familiar.
Então, aproveite as conexões que Ele te
deu. Não tente forçar ou moldar nada, nem sinta a necessidade de organizar um
grupo para isso. Simplesmente aprenda o que é se relacionar com irmãos e irmãs,
mesmo que sejam grupos de dois ou três, que permitem que Jesus seja o centro.
Ame os outros da mesma forma que Deus te ama, e verá a igreja de Jesus ser
edificada ao seu redor, e em todo o mundo. Isso te surpreenderá! Acima de tudo,
Ele está fazendo isso por 2000 anos. Atualmente, Ele está maravilhosamente bom
em fazer isso.
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