quarta-feira, 28 de março de 2018

Vivendo como igreja relacional 11

VIVENDO COMO IGREJA RELACIONAL
Escrito por Wayne Jacobsen. Traduzido por Ezequiel Netto

11 - Amigos e amigos de amigos.
Setembro de 2007.
Desde que escrevi A Igreja Nua, há vinte anos, tenho buscado por uma definição de igreja que compreenda sua majestade, que demonstre em simplicidade quem ela é, e como funciona no mundo. A princípio pensei que poderia ser respondido na forma estrutural, como saindo da mecânica das grandes instituições para estruturas mais relacionais, como grupos celulares, grupos caseiros e igrejas nos lares.
Mas não funcionou dessa forma, pelo que fiquei incrivelmente gratificado. Definir a igreja estruturalmente tem dois problemas. Primeiro, a vida da igreja é encontrada na afeição e cooperação de pessoas, as quais estão vivendo em Cristo. Nenhuma estrutura garante essa realidade. De fato, os menores grupos religiosos baseados no desempenho são até mesmo mais perigosos que aqueles maiores. Segundo, essas definições eram inerentemente divisivas - excluem irmãos e irmãs que reúnem em estruturas diferentes e inculcam uma falsa sensação de superioridade naqueles que pensam que finalmente descobriram “o segredo” da vida da igreja do Novo Testamento.
Em todo o tempo, meus relacionamentos nunca refletiam a realidade como eu tentava definir. Tenho comunhão próxima com irmãos e irmãs que se reúnem de várias maneiras, como em grandes instituições ou com aqueles que vivem apenas ao lado dos outros. Eu queria uma definição que transcendesse todas as formas estruturais que tendemos a ver a igreja.
Neste verão, contudo, encontrei por acaso uma definição que expressa melhor a vida da igreja que qualquer outra que eu buscara. Ela se cristalizou em meu pensamento durante um encontro mundial de crentes e vem crescendo em mim mais que nunca. Sua aplicação em uma variedade de formas parece sustentar testemunhos de sua clareza e praticidade. Que definição é essa? Simplesmente estou vendo a beleza da igreja de Jesus Cristo emergindo nestes dias como “amigos, e amigos de amigos”.
Agora percebo que precisamos de um pouco de explicações, então deixa tentar.
Um exemplo na Irlanda.
Aqueles que leem meu blog ou escutam O Caminho de Deus sabem que participei de um incrível ajuntamento de crentes na Irlanda, em junho do ano passado. Fui recebido por um número de pessoas que vivem relacionalmente ao redor de Dublin por mais de 30 anos. Estavam no processo de formar uma congregação nos anos 80, quando Deus deixou claro que não pediu a eles para fazer isso. Eles pararam de se encontrar regularmente, mas continuaram a compartilhar a vida de Jesus juntos como amigos que vivem próximos uns dos outros. Eles raramente se reúnem todos juntos, embora também seja raro que diariamente um grupo deles não esteja junto de alguma forma - compartilhando a caminhada e ajudando uns aos outros.
Nesse verão Deus me juntou por uma semana de compartilhamento com pessoas de todo o mundo as quais estão aprendendo a viver relacionalmente como família. O povo veio de 10 países diferentes, incluindo Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Estados Unidos e outros países da Europa. Muitos desses que vieram não conheciam uns aos outros previamente, e muitos nunca tinham ido à Irlanda.
Tivemos uma semana juntos, começando no domingo com um pic-nic no campo e terminamos no sábado seguinte, no mesmo campo, com um churrasco. Ninguém planejou nada além das refeições para estas ocasiões, e para o resto da semana não nos reunimos como um grupo grande, exceto para tomar um ônibus de turismo para conhecer a Irlanda. Durante toda a semana grupos de pessoas se encontraram em várias casas e outros lugares para comerem juntos, ter algum tipo de recreação ou conversarem. Até o final da semana fomos soprados para todos os lugares que o Pai quis sem planejamento e sem marcar reuniões de ministério. Amizades floresceram, assuntos profundos foram discutidos, impressões foram compartilhadas e perguntas foram respondidas. Oramos, choramos e rimos juntos, de todas as formas, assistindo Jesus emergir ao nosso redor. Dedicamos um tempo significante ajudando indivíduos que tiveram algum contratempo durante a caminhada, com oração e aconselhamento. Amigos e amigos de amigos puderam estar juntos por uma semana e Jesus pode realizar tudo o que desejou através dessa simples realidade.
Muitos daqueles que se juntaram durante aquela semana eu já tinha encontrado previamente durante minhas viagens. Assistir amigos meus se encontrando e desfrutando de outros amigos meus foi muito gratificante. Fui abençoado em ver como uma simples rede de conexões se expande para envolver outras pessoas, e quanta gente relatou que tiveram um tempo justamente com as pessoas que precisavam conhecer e puderam já perceber maneiras que Deus poderia fazer para ligá-las no futuro.
A princípio, nada disso me surpreendeu. A maior parte de minha vida é gasta com amigos e amigos de amigos que o Espírito está tecendo juntos. Eu tive momentos semelhantes nesse verão em grupos ainda menores na praia do lago Tahoe, num velho espaço de comunhão em Stratford, Ontario, e em uma casa em Naarden, na Holanda. E muitas das tarefas que Jesus me pediu para fazer nesses dias não poderiam ser feitas sem uma rede de várias pessoas, cada uma suprindo sua parte. Minha vida tem se tornado um mar sem fim de relacionamentos, alguns por muito tempo, outros apenas por uma estação. Mas estou convencido que o ambiente onde as amizades se desenvolvem é onde a família floresce, e não numa rígida rotina de uma instituição.
Quão maravilhoso foi pra mim ver que na Irlanda essa mesma dinâmica foi visível numa larga escala com diferentes tipos de pessoas. Foi exatamente desse jeito que me disseram que não funcionaria. Pessoas falam que as amizades são boas para estar atuando numa mesma localidade, e que não permitiria que o corpo de Cristo funcionasse numa escala global. Elas estão erradas. Estou convencido que a única maneira que pode funcionar é globalmente. As instituições brigam constantemente por controle, doutrinas e dinheiro. Mas onde Jesus constrói amizades não há fim para os bens e recursos que Ele pode juntar para cumprir seus propósitos. Nada é desperdiçado em esforço político ou para manter a máquina funcionando. Toda a dinâmica da vida do corpo no Novo Testamento se aplica melhor no desenvolvimento de amizades do que eles poderiam fazer se dedicando a edificar grupos.
Amizades no estilo de Jesus.
Não conheço sistema algum, seja pequeno ou grande, que possa garantir que, quando for implementado, uma comunidade verdadeira surgirá. A vida do corpo não surge de nenhum sistema gerenciado, mas a partir de uma amizade crescente com Jesus, por pessoas ligadas entre si que compartilham essa amizade umas com as outras. Mesmo que você faça parte de uma grande instituição, sua qualidade de vida estará muito mais em função das amizades que você cultiva e como estas te estimulam a viver mais intensamente em Cristo, que qualquer coisa que a reunião coorporativa possa produzir. Leia novamente os Evangelhos e verá que grande parte do ministério de Jesus foi realizada com simples amizades, seja com um pescador cansado retornando com o barco vazio, almoçando com um cobrador de impostos ganancioso, ou com Maria, Marta e Lázaro em Betânia. Ele foi constantemente acusado de ser amigo dos pecadores e de ter prazer com a companhia deles. No final de sua vida, Ele afirmou claramente para seus discípulos que o que esperava deles não era a obediência como servos, mas a afeição de amigos (Jo 15:15).
Talvez a palavra ‘amizade’ possa soar muito comum para descrever a maravilha de nossa ligação com Ele e de uns com os outros, mas isso só porque olhamos em termos humanos. A maioria das amizades é edificada num delicado equilíbrio de benefício mútuo. À medida que as pessoas fornecem alguma coisa para nós, nós as consideramos amigas. Quando não fazem isso, nós partimos para outras. Por essa causa, a maioria de nós tem apenas amizades muito rasas que podem ser tão inconstante com o tempo. E muitos de nós experimentamos a dor da traição quando um bom amigo decide que teria mais a ganhar se nos abandonasse.
Assim, muitos de nós evitamos amizades profundas pensando que podemos nos proteger de futuros desapontamentos. Essa é a razão por acharmos mais fácil confiar nos relacionamentos administrados pelas instituições que correr o risco da espontaneidade da amizade verdadeira e crescente. Mas essa é a nossa perda!
As amizades como Jesus idealizou não são no estilo “o que eu posso obter de você”, mas na disposição de entregar nossa vida em favor do outro. Até você experimentar como Ele fez isso por você, você jamais saberá como fazer isso pelos outros.
Essa é a razão porque a verdadeira amizade não se desenvolve a partir das regras e orientações institucionais, mas a partir de pessoas realmente ligadas a Jesus e, a partir daí, com os outros. Na medida em que vamos crescendo na liberdade de não precisar explorar os outros ou ser explorados por eles, poderemos experimentar tudo sobre a verdadeira amizade. Essas amizades são os tijolos para a edificação da comunidade do Novo Testamento.
Foi esse tipo de amizade que compartilhei com aqueles que se reúnem na Irlanda, e a amizade que cresceu entre os demais naquela semana. Estou convencido que essa é a maneira como a noiva toma forma no mundo à medida que o Espírito conecta o corpo através das amizades carinhosas e cuidadosas. Amigos e amigos de amigos, vivendo, compartilhando e trabalhando lado a lado, cada um contribuindo com o que o Senhor lhes dá. Esse é o nosso compromisso com o corpo de Cristo e abrirá a porta para todas as maneiras pelas quais Jesus quer que compartilhemos sua vida em unidade.
Desenvolvendo amizades.
Obviamente que estar ligado a um grupo e se tornar parte de um crescente círculo de amigos são duas coisas muito diferentes. A maioria de nós só conhece o primeiro, e o segundo pode parecer uma ameaça a este, pois não existe lugar algum que você possa ir para se inscrever para amizades verdadeiras. Não podemos orquestrar isso. As amizades surgem na medida em que reconhecemos e investimos tempo com aqueles que o Pai pede que andemos lado a lado por determinado período. Então elas começam da única maneira que podem começar, não com os outros, mas com Ele!
Primeiro, aprenda com Jesus a ser amigo. Ele é a única fonte de vida. A vida do corpo é fruto de nossa caminhada com Ele, e não um meio para obtê-la. Deixe seu relacionamento com Ele crescer. Se você não conhece outros com a mesma paixão, apenas fique perto dele e com os olhos abertos. Ele pode querer você para Ele durante um tempo, de forma que você dependa somente dele. E eventualmente Ele irá te conectar com os demais.
Segundo, procure fazer amizade com aqueles que Deus colocou em seu caminho. Os tijolos para edificação do corpo de Cristo não são encontrados em grupos, acredite ou não. Jesus mostrou especificamente o valor de dois ou três reunidos em nome dele. Em pequenas conversas é onde nós realmente conhecemos uns aos outros e reconhecemos a vida de Jesus no outro. Sentados numa reunião jamais faremos isso. Eu já estive em grupos caseiros que se reuniram por mais de 20 anos para oração e estudo bíblico sem serem amigos. Eles alegam ser igreja, mas não havia afeição entre eles, e nenhum entendimento do que significa compartilhar a vida juntos. Eles estavam apenas compromissados com as reuniões semanais.
Encontre maneiras de comerem juntos, uma tarde ou uma saída juntos. Quando se cruzarem no corredor de alguma loja, não sejam apressados. Parem um pouco, mesmo que seja só por um momento, e desfrutem a companhia um do outro. Os relacionamentos crescem melhor com pequenas conversações. Tentar formar grupos é um pobre substituto para isto, e muitas vezes uma forma estrutural de tentar produzir amizades involuntariamente subverte o processo por si só. Amizades só florescem em conversas verdadeiras onde pessoas estão crescendo em conhecer e cuidar umas das outras sob o amor do Pai.
Agora, assista as conexões se desenvolverem. A partir desses dois ou três uma maravilhosa rede de amizades surgirá. À medida que alguns amigos meus passam a conhecer outros meus amigos, o corpo toma forma ao meu redor. Essa teia de amigos interconectados oferece possibilidades sem limites para as várias maneiras que o Espírito pode nos unir e nos mostrar como cooperar juntos em fazer o que Ele pede. O ajuntamento de vários grupos vai tomar forma, não porque eles estão tentando ter uma ‘reunião’ do Novo Testamento, mas porque querem aprender juntos, trabalhar juntos ou, de alguma maneira, expressar a obra de Deus no mundo. Pessoas que vivem dessa forma aprendem a valorizar cada conexão que Deus deu a elas.
Aqueles que participaram como parte de facilitar o que aconteceu na Irlanda e em outros lugares que vou são aqueles que têm investido anos em desenvolver amizades. Eles não estão tentando dirigir grupos ou formar relacionamentos estruturados, mas simplesmente deixar Jesus ligá-los com outros e dar tempo para essas amizades se desenvolverem. E eles têm compartilhado generosamente essas amizades com seus outros amigos.
É assim que a igreja vai tomando forma localmente, regionalmente e globalmente. Eu amo ver alguns de meus queridos amigos fazendo amizades entre si. Quando estive no Reino Unido nesse verão, encontrei um jovem casal que veio como imigrante da África do Sul. Eles conheceram outro casal que tive um tempo com eles quando estive lá, os quais conheciam um casal mais velho vivendo próximo a eles, nas cercanias de Londres. Aquele casal fez contato entre eles e com alguns amigos que me hospedaram neste verão. Eles se juntaram a nós na semana que estive lá. Na semana seguinte eu estava sentado na Irlanda com o casal da África do Sul que começou tudo, e o casal de Londres que passou a fazer parte conosco. Que família alegre - amigos e amigos de amigos se encontrando em comunhão e vivendo juntos, ajudando uns aos outros na caminhada.
Está ouvindo o mover das agulhas do Espírito Santo tecendo-nos juntos como família?
A família de maior proporção.
Que alegria é ver a igreja tomando forma não como resultado da visão de algum homem, ou um grupo de pessoas planejando criar uma organização para contê-la, mas vendo-a como uma realidade que transcende todos os nossos esforços de controlá-la. Embora a igreja se expresse através de milhões de simples atos de amizade em resposta a liderança de Jesus e aos maravilhosos frutos que surgem a partir daí, nenhum homem poderia jamais controlar a igreja, e não existe nenhuma instituição que possa abrangê-la para controlar, financiar, brigar por ela ou dividi-la.
Expressões dessa grande família estão somente nas mãos do Senhor da maneira como correspondemos a Ele. Esta é a igreja que Ele está edificando! Ela permeia todas as coisas e todo lugar e não importa como nos reunimos em grupos com outros crentes, aqueles momentos de dois ou três, de oito ou dez, são os mais importantes. É aí que os relacionamentos se desenvolvem, onde as pessoas realmente compartilham a caminhada, e onde encontraremos formas de fazermos juntos o que Ele poderia pedir a nós.
Enquanto estive na Irlanda não pude cooperar muito, mas me pergunto quantos outros grupos de amigos interconectados enchem nosso planeta. Quão fácil é para o Espírito Santo conectar pessoas quando elas estiverem preparadas. Duas pessoas apenas precisam atravessar caminhos que separam partes da família, para encontrarem uma a outra. É uma alegria encontrar pessoas que não têm desejo de controlar o mover de Deus, pressionando aos outros com suas doutrinas preferidas, ou precisando organizá-las para obter algum resultado desejado (ou para ofertas de dinheiro). Sendo amados e compartilhando que o amor é mais que suficiente para dar expressão a esta incrível família. Mas não foi isso que Jesus nos falou? (Jo 13:34-35).
Um frutificar de vida.
Vendo a família como uma comunhão cada vez maior de amigos, e amigos de amigos, nos ajuda ver a igreja como ela realmente é. Isso também nos permite apreciar o crescimento orgânico que acontece através das amizades, em vez da imposição de algum modelo estruturado que força as pessoas para amizades que não têm crescido naturalmente e muito provavelmente jamais crescerão neste ambiente. Essa visão preenche bastante do que o Novo Testamento ensina e demonstra sobre a vida da igreja.
Mantenha o foco nos relacionamentos. Em vez de tentar construir uma vida corporativa na doutrina, programas, rituais ou estruturas, as pessoas estão focadas em sua amizade com Jesus e encontrando outros com os quais compartilham essa mesma amizade. Quanto mais suas amizades crescem, mais envolvimento você terá na família. E aqueles que têm dificuldades de estabelecer relacionamentos, podem ser ajudados por aqueles que têm mais liberdade para fazê-lo.
O foco não está nas reuniões, mas em viver relacionalmente. O compartilhar de vida no corpo de Cristo não acontece por frequentar reuniões, mas por desenvolver amizade com Jesus e com nossos irmãos espirituais. É certo que o corpo vai estar junto de várias maneiras para celebrar essas amizades. Mas isto será feito de forma que as pessoas desejam estar juntas com um propósito específico em mente, e não para seguir uma rotina artificial. Até então nosso foco deve estar onde Jesus pôs o dele - na conexão de dois ou três de acordo com o crescimento de nossas amizades. E quando nossos ajuntamentos acontecem além de nossas amizades, eles não serão um programa estático com o propósito de entreter os outros.
Isso responde o dilema do quanto de estrutura precisamos. Não vamos querer estruturas com o propósito de controlar amizades, porque isso só vai impedir as pessoas de lidar com suas diferenças ou crescer nesse processo. As estruturas que podemos abraçar são aquelas que facilitam o que Deus está fazendo no meio de um grupo específico por um tempo específico. Não precisamos começar ministérios ou perpetuar grupos com fim em si mesmos, mas simplesmente aprender como cuidar uns dos outros, estimular cada um para crescer em Deus e fazermos juntos qualquer coisa que Ele nos pedir.
Isso resolve os conflitos sem o apelo do poder. As instituições devem providenciar autoridades que tomam decisões claras, criando um ambiente baseado em quem detém o poder de tomar decisões que os outros devem seguir. Amigos resolvem os conflitos não pela decisão daquele que está no comando, mas por meio de buscar honesta e abertamente o bem maior de Deus e ninguém assumindo que sua vontade é a melhor para os outros. A conexão dos relacionamentos em acordo terá um impacto muito mais significante nos outros que qualquer assembleia que estabeleça regras.
Isso pode oferecer um lugar propício para o crente mais fraco. Uma das Escrituras que sempre me incomodou como líder de uma instituição era Romanos 14-15 onde Paulo fala sobre o mais forte dando espaço para o mais fraco. Absolutamente não existe aplicação alguma desse texto num ambiente institucional. Ao invés disso, o forte assume o controle sobre o mais fraco ou o resultado será o caos. Numa família de relacionamentos, contudo, aqueles fracos na fé podem ser amados, a graça pode ser estendida para até onde ele está na jornada, e eles podem ser encorajados a andar com mais liberdade, tudo no contexto da amizade.
Isso permite que líderes sejam verdadeiramente servos, ajudando no crescimento dos outros, em vez de manter a máquina funcionando. Também previne contra aqueles que são imaturos por desejarem a falsa liderança enquanto se escondem por trás de seu carisma pessoal, eloquência ou sabedoria intelectual como forma de governar sobre os outros. Os verdadeiros anciãos irão simplesmente ser aqueles que foram um pouco mais longe na estrada e que ajudarão os demais a encontrar amizades, da mesma forma que eles.
Isso permite conexões mais amplas, seja em encontrar novas pessoas ou cooperar juntos em vários esforços. Quando pensamos em igreja como uma instituição específica em um local específico, rituais ou doutrinas, cortamos a nós mesmos de outros relacionamentos que Deus poderia querer nos arranjar para interconectar sua família ou tocar o mundo.
O poder das conexões.
Tenho sido abençoado nos últimos anos por ser parte de algumas maravilhosas conexões com indivíduos ou rede de amigos que Deus me trouxe por um determinado período. O ajuntamento na Irlanda foi dessa forma. Foi um evento específico cujos frutos só poderão ser medidos pelas amizades que ele produziu. Quase tudo que faço agora traz comigo amigos em Cristo, cada um fazendo sua parte e resultando em algo muito mais maravilhoso que cada um de nós poderia realizar sozinho. Talvez o mais maravilhoso tenha sido minha experiência com um novo livro que um amigo escreveu.
Após não obter aprovação para publicar “A Cabana” em certo número de editoras, nós finalmente concluímos que era algo que Deus queria que fizéssemos juntos. Quando começamos buscar direção, tínhamos muitas peças faltando. Mas ao longo de dias e semanas, por meio de amigos e amigos de amigos, várias pessoas se juntaram a nós a fim de nos ajudar nesse projeto.
Nossa maior preocupação era como distribuir de forma tão ampla como pensávamos que Deus queria. Imagine nosso choque ao vender o primeiro exemplar de 11.000 cópias após divulgar o livro na internet, e conversar com nossos amigos sobre isso. Com amigos passando o livro para seus amigos o livro decolou. Sem nenhuma publicidade e sem vender em nenhuma livraria, ele se espalhou como fogo. Certo dia, um membro influente da mídia nacional tinha um exemplar nas mãos e contou a história de como o livro tem tocado vidas, especialmente aquelas que sofreram grande tragédia, e continua a derreter nossos corações. Fomos contatados pela principal rede distribuidora de livros e não tivemos noção de como isso começou. E rejeitamos a proposta de duas importantes publicadoras cristãs que recusaram publicar o livro um ano atrás e agora queria assumir o projeto.
Eu poderia contar mais algumas histórias da simples alegria e frutificação de pessoas se ligando umas às outras. Quase em todo lugar que viajo agora, o grande resultado é pessoas que vivem na mesma região que não se conheciam anteriormente, passam a se encontrar umas com as outras. Recebo e-mails depois que retorno para casa sobre amizades que se desenvolveram e como pessoas podem agora andar lado a lado com as outras, do jeito que Jesus as dirige.
Posso contar sobre pessoas em outros países vivendo a vida de expandir suas amizades, e dando grande testemunho da realidade de Jesus nas mais brutais circunstâncias pelo simples amor e perdão que encontraram nele. Creio realmente que isso é o que Ele disse que o mundo conheceria a Ele pelo amor que compartilharíamos uns com os outros.
Se você quiser fazer parte disso, apenas lembre-se que a alegria de viver como amigos, e amigos de amigos, não virá de um esforço desesperado de encontrar amigos por si mesmo, mas simplesmente por ser amigo daquele que o Pai permitiu que cruzasse seu caminho. Não, você não pode ser amigo de todo mundo, mas pode dedicar tempo para investir naqueles que Jesus pede para você fazer, seja ele já um crente ou não. E quando você assumir o risco de cultivar essa amizade, jamais saberá onde ela poderá te levar.
Conferência Wayne Jacobsen. Sorocaba/SP, 2009.

Vivendo como igreja relacional 10

VIVENDO COMO IGREJA RELACIONAL
Escrito por Wayne Jacobsen. Traduzido por Ezequiel Netto

10 - A igreja que Jesus edificou.
Dezembro de 2004.
Quer saber o que aprendi nesta semana?”, disse o homem quando me levava ao aeroporto Midwest cedo de manhã. Nós tínhamos passado uma semana incrível juntos com uma igreja caseira a qual ele ajudava a cuidar, e outro grupo de crentes que se juntou a nós quando souberam que eu estava na cidade. Este último estava num sério conflito por causa da participação deles com uma congregação que parecia abusiva. “Tenho vendido a coisa errada!”, ele continuou.
O que?” Eu perguntei para entender sobre o que estávamos falando.
Tenho vendido a ideia de igrejas nos lares”, disse ele sacudindo a cabeça com um sinal, “em vez de Jesus”. Obviamente ele não estava falando sobre “vender” alguma coisa, e eu amo esta descoberta. Em quase todos os lugares que vou, as pessoas estão preocupadas em encontrar o jeito certo de fazer igreja. Parece que nossa fome por igreja é maior que nossa fome por Jesus.
Em uma reunião numa igreja no lar, há poucos anos atrás, uma senhora compartilhou um sonho que tivera na noite anterior sobre uma noiva se arrumando diante do espelho e admirando sua própria beleza. Ela estava ansiosa com seus cabelos, maquiagem e vestido, pois queria ter certeza que tudo estava perfeito. Enquanto isso, ela viu também o noivo no altar checando as horas, e questionando por que a noiva não chegava. Que quadro triste e solitário de tantos crentes em nossos dias. Estamos tão focados em nós mesmos e no que a igreja deveria ser que estamos esquecendo que nossa alegria está no noivo - o próprio Jesus!
Se existe alguma coisa que aprendi na última década visitando várias expressões do corpo de Cristo ao redor do mundo é que aqueles preocupados em como devem fazer a igreja raramente experimentam a vida do corpo em sua plenitude, enquanto aqueles que se preocupam com Jesus encontram uma igreja viva, vibrante e maravilhosa.
Procurando a igreja.
Nos últimos 40 anos centenas de livros foram escritos acerca da renovação da igreja. Tenho assistido pessoas mudando da carismática para mega igreja, para baseada na adoração, para centrada no poder, para igreja em células, para o buscador sensível, para o renovado, para a igreja com propósito, para a igreja no lar, para igreja emergente, e a lista vai alongando. Alguns até mesmo retornaram para um culto litúrgico, encontrando consolo na beleza estética e segurança. Como alguém confessou: “Eu só quero me reunir com cristãos onde eu não tenha que me preocupar com alguém se debatendo no chão como um peixe encalhado.
Estes movimentos persistem devido a atuação de um pregador talentoso que consegue arrastar uma multidão alegando que finalmente encontrou a mais nova maneira bíblica de fazer a igreja. Após a euforia do alegado “novo odre” desaparecer em 3 a 5 anos, as pessoas encontram-se frustradas e precisam procurar uma nova expressão de igreja que preencha o clamor de seus corações.
Eu compreendo a fome. As Escrituras pintam um quadro constrangedor da igreja de Deus - irmãos e irmãs crescendo no relacionamento com Jesus e uns com os outros de maneira que são transformadas por esta experiência. Eles amam uns aos outros, crescem juntos na sabedoria de Deus, compartilham seus bens juntos livremente, e viram-no revelar a si mesmo de uma maneira extraordinária a eles e em sua cultura.
Eles eram perfeitos? Certamente que não e as Escrituras claramente mostram isso tão bem. Eles lutaram contra falhas e pecados. Eles tinham que lidar com aqueles que tentaram exercer controle sobre os outros, e irmãos e irmãs que preferiam o conforto do falso ensinamento ao desafio da verdade. Mas em todo o tempo Deus continuou fazendo sua obra e a verdade era conhecida. Eles estavam cheios do temor e a graça de Deus se multiplicava no meio deles de forma visível.
Quem não gostaria disso? Contudo, aquelas expressões de vida da igreja têm sido raras e breves em nossos dias. O que é tido como igreja hoje faz de nós mais expectadores que participantes, manipula a vergonha das pessoas em vez de libertá-las dela, prefere mais a rigidez da obrigação que o poder do amor, valoriza mais o empenho na programação de alguém em detrimento do fazer discípulos de Jesus. Não é de se admirar que tantas pessoas estivessem desiludidas com esta estrutura. No entanto, existe uma busca contínua, como pássaros em uma inexplicável migração para uma terra que eles nunca viram.
Além de Igrejas nos Lares.
O contexto deste artigo é que tudo o que chama a si mesmo de igreja não é de fato igreja. Após 2000 anos de história cristã, o termo é usado para instituições que proporcionam uma experiência cristã através de rituais, do clero e das tradições. Algumas das melhores destas instituições atuais proporcionam um ambiente onde pessoas podem conhecer a Jesus, crescer nas verdades bíblicas e se ligarem em comunhão verdadeira de forma que, dentro e ao redor destas instituições, algumas pessoas podem encontrar expressões de vida da igreja.
Por outro lado, existe um crescente número de pessoas que estão encontrando uma expressão de igreja incrivelmente limitada. Algumas estão abandonando o sistema abusivo, onde o controle por parte de líderes inseguros e as prioridades da instituição suplantam qualquer legitimidade de vida espiritual. Existe ainda outro grupo cada vez maior de pessoas que não se conformam com o tempo e o dinheiro investidos em prédios e políticas institucionais, e percebe que aqueles que estão na liderança destas instituições, muitas vezes, tem pouco do caráter do Pai, e menos ainda de sua paixão.
Fico maravilhado com o grande número de pessoas que deparo, as quais deixaram as instituições onde eram líderes respeitados - pastores, presbíteros, mestres, diáconos e membros do conselho. Alguns deixaram para não se submeterem às demandas que não estavam em acordo com a vontade de Deus, e outros porque entendiam que a instituição não saciava a fome de viver como igreja. São mais valorizados a lealdade que a honestidade, a arrogância que a ternura, o entretenimento que o crescimento espiritual e a sobrevivência da instituição que o amor às pessoas.
Um líder denominacional confrontou sua própria organização: “Um número crescente de pessoas está deixando a igreja institucional por uma nova razão. Eles não deixam porque perderam a fé. Eles estão deixando a ‘igreja’ para preservarem sua fé”. As pessoas migram para uma nova realidade, e descobriram que a maneira que aprenderam como “ser igreja” no passado não sacia a fome deles por conhecer Jesus mais intimamente e por compartilhar esta vida com os outros de forma mais eficaz.
Muitos destes, inicialmente foram para uma igreja no lar, esperando que sua dinâmica mais bíblica pudesse oferecer a ‘Terra Prometida’ que eles tanto buscavam. Mas logo perceberam que havia uma mistura. A excitação por uma dinâmica relacional em pequenos grupos esvaneceu quando descobriram que existem ainda pessoas querendo controlá-las interiormente ou moldá-las em novos relacionamentos vazios. Eles encontraram relacionamentos esquisitos onde pessoas estão mais focadas em métodos do que em seguir a Jesus. Eles muitas vezes enfrentam as mesmas exigências religiosas por conformidade e compromisso, e encontraram a mesma superioridade “nosso grupo é melhor”, que os separa de outros cristãos e do mundo por preconceito racial com os não crentes, em vez de expressarem compaixão.
E agora também cresce um grande número de pessoas buscando além das igrejas nas casas, imaginando onde encontrarão a autêntica vida de igreja, e até mesmo se isso realmente existe.
Uma fome inegável.
A triste realidade é que muitos que ganham liberdade do sistema de obrigações religiosas muitas vezes encontram a si mesmos usando a liberdade como desculpa para dar lugar aos apetites reprimidos por muito tempo pelas coisas do mundo. Eles nem sempre caem em grandes pecados, mas a fome espiritual deles é tragada pela busca de prazer. Temo quando isso acontece, mas sei que para muitos será apenas uma fase. Tendo trabalhado por tanto tempo e tão intensamente pra Deus com tão poucos frutos permanecendo em relação a Deus e aos demais, que a frustração deles muitas vezes se transforma em tolerância pessoal descuidada.
Para aqueles que foram tocados por Jesus, este período não trará satisfação e, além disso, surge uma nova paixão por comunhão verdadeira com Jesus. Além dos desapontamentos, além das falhas dos outros, a fome por uma vida verdadeira no meio do povo de Deus reaparece. Fico impressionado com a capacidade que tem essa fome em encontrar vida na família do Pai. Mesmo com aqueles que sofreram abusos ou que ficaram frustrados em seus esforços de encontrar essa vida no passado, ainda encontram a inegável fome surgindo mesmo após a determinação de buscar sozinho. Uma vez que você tenha experimentado a comunhão genuína, onde amados irmãos te inspiraram na caminhada e ampliaram sua visão quanto à natureza de Deus, você não se satisfará com nada inferior. Muitos experimentaram alguma prova da comunhão dos primeiros dias, num estudo bíblico informal ou com um amigo mais chegado.
É certo que deva haver uma maneira consistente para os crentes compartilharem esta incrível jornada onde leem vorazmente tudo o que podem encontrar na igreja, e buscam na internet para ver se alguém mais encontrou a mesma coisa e continuam frequentando algum grupo na região que pareça promissor. Enquanto uns encontram respostas e conexões, outros se encontram tão angustiados que se sentem incrivelmente isolados quando não encontram ninguém com quem compartilhar.
Talvez estejamos finalmente acordando para o fato de que Jesus não nos disse para edificar sua igreja. Disse que Ele mesmo faria isso. Falou para permanecermos nele, amar aos outros como Ele nos ama, proclamar o evangelho e ajudar aos outros a aprender a seguir a Ele. Se estivermos focados nestas coisas em vez de tentar fazer o trabalho dele, não tenho dúvidas de que veremos a igreja brotar ao nosso redor.
A igreja que Jesus está edificando continua a crescer no mundo e você não é uma pequena parte dela. Mesmo que você se sinta sozinho na caminhada, Ele está criando uma paixão em seu coração por um propósito que você não pode ainda ver. Suspeito que nos próximos anos veremos Jesus reunindo seu povo de forma que nem mesmo podemos compreender agora. Vejo duas tendências em nossa cultura que me excita bastante. Primeiro, um número crescente de crentes desiludidos com os rituais organizados da religião. Segundo, um crescente número de não crentes buscando assuntos espirituais e famintos por relacionamentos autênticos. Vai ser muito interessante ver estas duas realidades convergindo nos dias que teremos pela frente.
Reconhecendo a igreja de Jesus.
Embora eu não espere ver uma perfeita expressão do corpo de Cristo neste planeta antes da volta de Jesus, no entanto isso não me impede de contemplar sua glória. Já testemunhei vez após vez em todo o mundo o milagre de pessoas compartilhando juntas a vida de Jesus, crescendo em compaixão, sabedoria, cuidado e liberdade. Já testemunhei também Deus ligando pessoas com profundo impacto na vida de cada uma, e tendo grande alegria em fazer isso.
Fico hesitante em definir como é a ‘aparência’ da igreja de Jesus, porque tenho certeza que o povo a reconhece quando toca nela.
Igreja não é um lugar para ir, ou uma forma de organização. Ela é uma rede de relacionamentos que compartilhamos com outros crentes, onde Jesus é o único foco (Cl 1:18) e nós somos livres para crescermos nele (Ef 1:21; 4:18-20). Você reconhecerá a vida da igreja de Jesus onde as pessoas têm a liberdade de serem honestas sem serem atacadas (Jo 4:24 - veja também o apêndice Sendo Verdadeiros), onde elas podem discordar sem ser menos amadas (Rm 13), onde podem ser encorajadas da melhor forma, sem ser manipuladas pela agenda de alguém (1Co 14), onde a culpa é removida de cada um em vez de serem acumuladas (Rm 8:1-4), onde eles cuidam amorosamente das necessidades práticas e espirituais de cada um, onde eles estão livres da obrigação de viverem em amor (Gl 5) e onde o propósito de Deus em nós tem objetivos mais claros (Jo 17, Ef 1).
Em resumo, esta é a família no melhor sentido da palavra, irmãos e irmãs crescendo juntos sob os cuidados do Pai. Pessoas como estas vão encontrar maneiras de se reunirem regularmente de várias formas como Deus conduzir, sendo que o relacionamento delas é o foco e não as reuniões. Onde você encontrar pessoas assim, você encontrou o corpo de Cristo. Certamente que isso pode acontecer no ambiente de uma instituição, embora nenhuma instituição pode, em última análise, contê-lo. Também pode acontecer fora das instituições, no curso normal de nossas vidas, quando Jesus nos coloca em seu corpo na forma que Ele desejar (1Co 1:18).
Onde posso encontrar isso?
Comunidade relacional não é ciência espacial. Quanto mais tentarmos organizá-la, mais intensamente vamos tirar a vida para fora dela. Quando estava no ensino fundamental assisti meus pais mudando de uma igreja denominacional para se unir com crentes apaixonados. Isto aconteceu no início do avivamento carismático no meio dos anos 60. Eles começaram a descobrir o quão real Jesus queria ser na vida deles e encontraram muitos amigos compartilhando esta mesma fome. Sem os aborrecimentos de uma instituição, eles se encontravam pelas casas, compartilhavam o alimento e recursos, e convidavam crentes mais maduros para ajudá-los a entender o que Deus estava fazendo com eles.
A congregação que eles frequentavam nos domingos de manhã logo passou a ameaçar esse novo fervor e, em pouco tempo, forçou-os para fora. Estranhamente, eles mudaram a reunião de oração das noites de sexta para domingo de manhã, para começar sua própria igreja. Eu lembro, mesmo sendo ainda jovem, como a alegria, o entusiasmo e a espontaneidade mudaram rapidamente por causa das exigências de organização, planejamento para os cultos dominicais, e preparação do ministério com crianças. Logo eles estavam brigando sobre como as coisas deveriam ser feitas, quanto dinheiro poderia ser gasto, em vez de crescerem em Jesus.
Eu vi isso acontecer várias vezes. Pensando que podemos produzir a vida da igreja por meio de uma organização melhor, nós quase sempre involuntariamente sacrificamos essa vida por causa das necessidades da instituição que produzem tão poucos frutos. A vida da igreja é o fruto natural de pessoas crescendo em Jesus e em companheirismo com outras que estão próximas. Não é sempre fácil encontrar pessoas com o mesmo tipo de paixão, mas o Pai tem maneiras interessantes de conectá-las umas com as outras.
O que você pode fazer
Você certamente não pode fazer a igreja acontecer por seus esforços pessoais, e nem ela vai bater em sua porta enquanto você assiste TV. Existem algumas coisas que você pode pensar, pelas quais você entenderá como Deus poderia te conectar com outros crentes:
Primeiro, viva a caminhada. Você não encontrará vida em Jesus por encontrar o grupo correto; você está conectado com a família por seu relacionamento com o Cabeça, Jesus. Isto não quer dizer que as pessoas que “frequentam igreja” por 20, 30 ou 40 anos, não tenham a mínima ideia de como ouvir Jesus e fazer o que Ele quer. Nós os preparamos tão bem para viver por princípios que eles nunca aprenderam a seguir a sua voz. Aprenda a viver nele. Descubra o quanto você estará seguro em seu amor e como você poderá confiar na palavra dele dita a você. Leia você mesmo as Escrituras e aprenderá a pensar como Ele pensa e reconhecer sua voz. Se conhecer alguns outros que queiram crescer nesta caminhada também, compartilhem juntos a jornada.
Segundo, cultive relacionamentos. À medida que você cresce na segurança do amor do Pai, encontrará a si mesmo amando a outros da mesma forma, não como cristãos, mas como um povo nesse mundo. Você reconhecerá que Deus trabalha inicialmente por meio dos relacionamentos. Então, se una ao Senhor em edificar relacionamentos à medida que Deus vai trazendo pessoas a você. Ele pode te conduzir a um grupo de pessoas que já se reúnem, ou a algum relacionamento individual ao redor de seu bairro ou ambiente de trabalho. Ele pode te envolver com outros, comumente chamados “ministério paraeclesiástico”, uma missão de resgate, para os prisioneiros, um trabalho com jovens, um grupo de oração, abrir sua casa para estudo bíblico ou um grupo de comunhão. Deus sabe como te ligar com as pessoas que Ele quer que você conheça. Esteja preparado para dedicar algum tempo para aqueles relacionamentos ao fazer coisas juntos - compartilhando uma refeição, ajudando na construção de uma casa ou saindo juntos. São poucas as pessoas atualmente que iniciam esses tipos de encontros, além de serem difíceis em estabelecer amizades.
Terceiro, compartilhe a caminhada. Quem Deus colocou perto de você para quem você possa abrir sua vida para essa pessoa? Pode ser apenas uma pessoa ou um punhado delas. Elas podem ser encontradas na cidade, ou na sala ao lado. Encontre uma maneira de compartilhar a vida de Deus juntos. Admitidamente isso pode parecer constrangedor no princípio, pelo fato de não estarmos acostumados a esse tipo de conversações, mas será muito prazeroso e digno de ser aprendido. Compartilhe insights das Escrituras ou coisas que está aprendendo, orem juntos sobre situações que encontraram, sobre coisas que Deus está fazendo com vocês, e aprenda a ouvir a Ele juntos, de forma que vocês possam encorajar uns aos outros na obra de Deus. À medida que a amizade de vocês vai aumentando, vocês encontrarão maior liberdade para mais abertura, mais honestidade e confissões de suas dificuldades, e serem capaz de usufruir da sabedoria e força que Deus tem dado ao outro.
Quarto, aprenda a abrir mão de sua vida. A comunidade não acontece quando cada um luta pelo que quer, mas onde seguem o exemplo de Jesus de abrir mão de sua vida em favor de outros. Caso só olharmos para nós mesmos, seremos como navios na noite, e mesmo nos encontrando semanalmente, nos sentiremos sozinhos. Usar sua vida em favor dos outros abrirá as portas para a verdadeira comunidade.
Quinto, explore um relacionamento comunitário. Na medida em que os relacionamentos crescem, você poderá encontrar algumas pessoas ou famílias que sintam o chamado de caminharem juntas por um período. Não existe melhor expressão da vida da igreja que irmãos e irmãs que queiram compartilhar a vida de Deus de forma intencional e regularmente. Não tente “começar uma igreja”, mas apenas cresça no que significa cuidar uns dos outros nas circunstâncias reais da vida. Inclua famílias inteiras. Estejam juntos regularmente, mas também cultivem aqueles relacionamentos além das reuniões. Compartilhem seus bens, dons e tempo da maneira que Jesus os conduzir. Busque maneiras onde Deus possa te usar em favor dos outros na comunidade, individualmente ou coletivamente, para revelá-lo em nosso mundo ou abençoar outros crentes com ajuda para crescer espiritualmente ou encorajar uns aos outros neste processo. Seja cuidadoso em não limitar seus relacionamentos apenas com aqueles do grupo e não tente fazer da comunidade algo permanente. Experimente o que Deus te dá em cada estação e esteja aberto para mudar para outros relacionamentos quando Jesus assim conduzir.
E se precisar de ajuda...
Aprender viver como a igreja que Jesus está edificando desafiará alguns dos seus paradigmas. Muitos de nós fomos ensinados a sermos aprendizes passivos. Se precisarmos de algo, alguém vai nos dizer o que é. Crescimento no reino não acontece dessa forma. Aqueles que encontraram a vida não têm medo de bater, de pedir, de buscar.
Se você está se esforçando para aprender como viver profundamente em Cristo, se una com outros cristãos, ou tenha um grupo que não se isole em compartilhar a caminhada juntos, pois isto contribui para separar coisas, como um irmão ou irmã que poderiam ir um pouco mais longe na caminhada, em algumas áreas. Não tenha medo de pedir ajuda. Em cada estágio de minha caminhada, Deus sempre colocou alguém por perto para ajudar a confirmar coisas que eu estava vendo, e me ajudar a pensar além das limitações de minhas experiências prévias. Mas eu busquei aqueles relacionamentos. Eles não vieram a mim.
Também existem dons que Deus distribuiu através do corpo (Ef 4:11-13) para ajudar a capacitar pessoas a viver esta jornada. Você não os reconhecerá por títulos, pois os que são verdadeiros não os usam. Não os reconhecerá por sua popularidade, pois muitos voam por baixo dos radares. Não os reconhecerá por seus escritos, pois a maioria nem mesmo escreve. Deus te ligará por meio de relacionamentos com aqueles que Ele deseja. Você os reconhecerá pelo seu comportamento de acordo com a natureza do Pai. Você escutará na voz deles a voz do Pai. E um tempo com eles te aproximará do Pai e te trará mais liberdade para confiar mais nele. Eles te deixarão focados no Pai, e não tentarão implantar algum método ou grupo de princípios. Eles ajudam pessoas a se livrarem da culpa e dificuldades, e nunca explorarão isso, mesmo quando querem que elas façam a coisa certa. Eles têm paciência com aqueles que se esforçam, e não são defensivos quando pessoas os desafiam com questões honestas. Eles não se veem como experts sobre você, mas como irmãos e irmãs que caminham juntos, e nunca te pressionarão ou tentarão te fazer dependentes deles. A alegria deles está em fazer a obra do Pai crescer em você.
Isso pode requerer que você pense por fora da caixa, mas aprender a viver na igreja que Jesus está construindo vale a pena em cada momento da caminhada. Ele realmente quer que você aprenda a caminhar ao lado de outros irmãos e irmãs, encontrando neles um incremento poderoso para a vida que você está descobrindo em Deus. Tente não desviar seu coração disso, mesmo que isso pareça uma miragem distante. Eu asseguro que é real o bastante e parte do plano de Deus de trazer todas as coisas juntas debaixo de Um cabeça!
Apêndice - Sendo verdadeiro.
O parágrafo seguinte foi adaptado de “O teu verdadeiro eu se levantará!”, um áudio da coleção Lifestream, por uma irmã do Texas:
Tudo bem perguntar o que eu preciso perguntar, e me esforçar onde preciso me esforçar. Fui ensinado que não serei recompensado por pretender ser melhor que já sou, mas experimentar a vida de Deus significa que serei amado mesmo com altos e baixos, momentos de tristeza e alegria, até mesmo com as dúvidas e triunfos. Em vez de explorar a fragilidade das pessoas, ou necessidade de aprovação por tentar fazer deles cristãos melhores, encorajo as pessoas a buscarem a Deus por cura e restauração da fraqueza, pois assim podem experimentar por si mesmos o amor de Deus.
Em vez de sobrecarregar os outros com uma lista de “deveriam fazer”, digo as pessoas que Deus está operando através da “lei do Espírito da vida em Cristo Jesus”, e que Ele tem um imenso desejo de se comunicar conosco. Falo sobre aprender “como” ouvir Deus e seguir aquilo que Ele põe no coração deles mesmo que descubram depois que fizeram algo errado. Em vez de tentar mudar as pessoas, insisto com eles para conhecer a Cristo como vida, pois é muito divertido (e muito mais eficaz) assistir Ele transformando as pessoas. Ao invés de manipular as pessoas para fazer o que eu penso que poderia me trazer algum benefício, e minha definição da vontade de Deus para eles, eu compartilho como é a nossa caminhada, de forma que possa trazer uma luz para eles. Se você está sofrendo ou sem esperança alguma, estarei lá da mesma forma que o Pai escolheria estar. Não sei se sempre terei o que você precisa, mas pelo menos estarei lá contigo para que você não tenha que enfrentar as dificuldades sozinho.

Vivendo como igreja relacional 09

VIVENDO COMO IGREJA RELACIONAL
Escrito por Wayne Jacobsen. Traduzido por Ezequiel Netto

09 - Dependência Compartilhada.
Abril de 2003.
Na última década encontrei milhares de crentes em todo o mundo e assisti cuidadosamente como eles buscam viver a comunhão cristã em vários tipos de grupos - desde dois ou três em comunhão espontânea, ou igrejas centenárias, e tudo mais acerca disso. Em muitos lugares tive o prazer de encontrar o povo de Deus compartilhando sua realidade em unidade, de como cada um crescia em conhecê-lo mais e mais. Em outros lugares, assisti em tristeza como eles se esforçavam para repetir alguma forma da vida do Novo Testamento, mas, a despeito de todo esforço e diligência, eles continuamente terminavam desapontados e frustrados.
Pelo fato de desejar que todos conheçam a alegria de viver a vida de Cristo, estou sempre tentando identificar o que faz a diferença. Por que alguns grupos experimentam a plenitude do Senhor em unidade, e outros a perderam? Alguns poderiam dizer que a presença de Jesus faz toda a diferença. Mesmo que isso possa ser parcialmente verdadeiro, eu o encontro presente em todo lugar, mesmo ao redor das pessoas mais aprisionadas, convidando-as para mais perto dele.
Outros poderiam dizer que é porque alguns encontraram o caminho que Deus mostrou para eles andar, e outros seguem as tradições de homens. Isto também pode ser parcialmente verdadeiro, pois percebi em uma ocasião onde pessoas usando os princípios bíblicos mais corretos tinham um relacionamento bastante disfuncional, e pessoas tão ingênuas, como crianças espirituais, vivendo um momento significativo em experimentar a alegria da obra de Deus.
Não, no final, isso não é sabedoria, maturidade, os princípios corretos ou até mesmo o esforço e compromisso. Pessoas que vivem a vida de Deus na forma mais saudável estão aprendendo a beleza da dependência compartilhada. E não estou dizendo que elas aprenderam a depender de um líder, de cada um ou de uma certa igreja estruturada, mas que eles estão aprendendo juntos em como depender do Pai e desta forma participarem de sua obra ao redor deles.
Precisamos de comunhão?
Na maior parte da minha vida eu ouvi pessoas falando sobre a vida cristã com a linguagem de necessidade. “Um bom cristão é aquele que frequenta os cultos sempre que o corpo se reúne”. “Você precisa vir para a igreja” ou você cairá em engano. A parte ruim da vida cristã é que a única forma de nos motivar a participar é porque devemos. Toda essa conversa de obrigação e compromisso me leva a pensar que a força motriz por trás da “frequência à igreja” nada mais é do que miseráveis que amam a companhia. Encarar isso, sentados durante o mesmo culto toda semana, parece entediante. Mesmo os mais incríveis pregadores que já ouvi se tornam cansativos semana após semana e repetitivos ano após ano.
A vida cristã se relaciona com refletir a alegria da família do Pai, e não uma dolorosa obrigação para seus filhos. Sei que pode ser difícil acreditar para aqueles que só experimentaram a vida cristã como reuniões redundantes, líderes controladores ou relacionamentos cheios de fofoca, condenação e manipulação. A verdadeira vida do corpo, contudo, não se parece com nenhuma destas coisas.
Quando o Novo Testamento fala acerca da vida da igreja, ele não usa a linguagem da necessidade ou obrigação. Ele não força os crentes a se comprometerem com a família de Deus porque eles devem fazer isso, mas convida-os a compartilhar numa demonstração incomparável da glória de Deus. O seu relacionamento pessoal com Ele vai, na melhor das hipóteses, permitir que você experimente apenas uma pequena faceta da pessoa de Deus e sua sabedoria. Paulo comparou isto com um relance parcial como se estivéssemos olhando por um espelho embaçado (1Co 13:12). O melhor que podemos ver será apenas uma parte. Mas quando combinamos nossas partes com muitos outros membros da família, alcançamos uma imagem mais completa de Deus e de suas obras. É por isso que Paulo descreve a igreja como a plenitude de Cristo (Ef 1:23).
Quando você é amado muito além dos seus sonhos, desafiado nas maiores alturas da glória, encorajado pelo poder de Deus através dos outros, e iluminado pelas impressões proféticas destes, ninguém vai precisar ser forçado a participar. Mas somente Deus pode produzir este tipo de vida em comunidade. Se buscarmos isto uns nos outros em vez de no próprio Deus, vamos apenas nos encontrar vivendo um pobre substituto para a realidade que Deus quer nos oferecer.
É dele que precisamos.
Na realidade, não precisamos uns dos outros. Precisamos dele! A vida da igreja que não começa com esta simples premissa está destinada a perder o foco. Tão valorosa e enriquecedora como a autêntica vida no corpo é, se nós adotarmos um substituto para a presença de Deus diária operando em cada um de nós, isto se tornará um obstáculo, em vez de ser uma benção, para nossa caminhada.
Não podemos deixar que os dois se confundam. A Escritura é clara aqui. Só Ele é nossa força e proteção. Só Ele é nosso refúgio. Ele quer ensinar a cada um de nós a viver totalmente dependente dele. Nosso relacionamento com os outros deve nos encorajar neste processo, e não substituí-lo.
Recentemente eu vi a foto da mais nova caverna descoberta cuja existência foi anunciada só recentemente na mídia. Um câmara nesta caverna é grande o suficiente para conter uma cúpula com várias outras salas sobressalentes. A única forma de acesso é através de uma corda lançada por um buraco no teto. Na foto a equipe estava subindo pela corda para chegar à superfície.
Esta foto mostra a tensão dos participantes na jornada que não podiam perder o senso de dependência. Cada um dependia da corda para sair daquele ambiente. Mesmo considerando o valor que o encorajamento, experiência e instruções poderiam ter sobre os outros, cada pessoa precisaria confiar que a corda era suficiente para subir à superfície. Nenhum deles, mesmo com as melhores intenções, poderia substituir aquela corda. Ninguém poderia rastejar sobre os outros e eles poderiam subir por cima uns dos outros durante anos e ainda não encontrar uma forma de chegar à superfície.
Da mesma forma, nosso relacionamento uns com os outros só poderá ser saudável quando não estamos tentando tirar do outro o que somente Deus pode nos proporcionar. Como a corda para os escaladores, Deus nos quer dependentes dele apenas e encorajando a outros neste processo de fazerem o mesmo.
Não tenha substitutos.
A vida cristã naturalmente resulta de pessoas aprendendo a viver diariamente dependendo da presença do Pai. Esta paixão é um ingrediente essencial para as pessoas descobrirem efetivamente juntas a vida do corpo. É uma tentação pensar que se Jesus revelou a si mesmo através do corpo, depender dele é a mesma coisa que dependermos uns dos outros. Admitidamente é uma mudança sutil, mas potencialmente fatal, pelo menos espiritualmente, se tirarmos nossos olhos de Jesus e nos voltarmos para outras pessoas ou algum sistema de multiplicação de igrejas.
Uma vez que os escaladores tirem fora a corda, mesmo que se agarrem uns nos outros, um desastre vai acontecer. Somos um povo que caminha para um maior relacionamento com Ele, e maior confiança nele. Podemos ajudar uns aos outros a prosseguir para irmos mais longe do que cada um iria sozinho, mas nunca devemos esquecer para onde estamos indo. A vida cristã floresce onde pessoas estão aprendendo a depender de Deus para tudo, e este relacionamento é o que sustenta o crescimento.
Infelizmente, muitos dos que passam hoje pela igreja, involuntariamente, oferecem substitutos para esta dependência que tomam posse de seus corações. A tradição pode facilmente se tornar a tentativa de reproduzir algo que Deus fez no passado, e a maioria dos programas busca garantir que a mão de Deus agirá no futuro. Ambos nos impedem de corresponder ao que Deus está fazendo no presente, o que nos levaria a confiar mais nele. Leia Mateus 6 e aprenda o que Jesus está dizendo acerca de cada um de nós vivermos em absoluta segurança no fato que Deus tomará conta de nós e nos conduzirá para sua vida. Isto é algo que cada um de nós tem que resolver em nosso relacionamento pessoal com Ele.
Sei que aprender sozinho a confiar nele pode parecer assustador. Pode parecer mais fácil, a curto prazo, colocar nossa dependência em líderes, outros crentes ou numa maneira de fazer igreja, mas isto só vai nos conduzir a uma perpétua frustração e nos ferir quando outros quase inocentemente falharem em nossas expectativas, ou mesmo de forma mais aguerrida traem nossa confiança. A dor resultante é evidência suficiente para demonstrar que nossa dependência está no lugar errado.
Embora possamos encorajar uns aos outros neste processo, devemos tomar cuidado para não subverter isto tentando depender uns dos outros em vez dele somente. Quando as pessoas perdem a paixão de cultivar uma dependência crescente no Pai, o melhor que podem produzir pelo esforço humano é uma ilusão de igreja.
Superestimando nossas habilidades.
Esta foi uma daquelas respostas que me surpreenderam tão logo ouvi a mim mesmo dizer isso e que não acontece tão frequente para alguém que geralmente pensa três frases à frente daquela que está saindo de sua boca. Na última uma hora e meia eu estava sentado na antiga boate Tulsa com um grupo de crentes famintos conversando sobre esta incrível jornada de conhecer o Pai e andar na realidade de sua presença. Então alguém perguntou, “O que você pensa ser a maior barreira para as pessoas viverem a plenitude da vida de Deus?”.
Estou começando a pensar que a maior barreira é superestimar nossas capacidades”. Minha resposta me deixou surpreso. Não sei se eu já tinha expressado o interesse em responder uma questão parecida. Eu tive que pausar e pensar por um momento se aquela era minha resposta final.
Por mais que eu pensasse nisto, contudo, percebi que Deus havia iluminado algo que Ele estava trabalhando em minha vida. Eu costumava pensar que o esforço diligente aplicado corretamente ao processo poderia resolver qualquer coisa. Mas ao longo dos anos a falência de meus melhores esforços me convenceu que ao menos que o Senhor edifique a casa, os construtores trabalham em vão (Sl 127:1). A alegria desta vida é encontrada em confiar nele e seguir sua liderança em um relacionamento diário de crescente confiança.
Conversamos bastante naquela noite sobre a pressão que colocamos em nós mesmos e nos outros para reproduzir esta coisa maravilhosa que chamamos de vida no Espírito, mais convencido eu fiquei que superestimar nossas próprias capacidades complica nossa caminhada em vez de nos libertar. Isto nos leva a sentir presos às nossas falhas e nos orgulhar nos sucessos. Isto nos faz manipular os outros a fazer o que pensamos ser o melhor e encoraja cada um a por seus olhos nas pessoas em vez de Jesus. Isto nos leva a um esforço desnecessário e desperdício de energia, pois só vamos saber como fazer nosso trabalho quando entendermos como Deus trabalha. Pessoas que confiam nas próprias capacidades nunca descobrirão a realidade da vida em Deus e a alegria de compartilhar esta vida com os outros.
Nem mesmo um pouco.
A vida de Deus deixou o mundo de Paulo totalmente de cabeça para baixo, de um religioso comprometido que se gabava em suas habilidades e se orgulhava em suas realizações para alguém que não tinha mais nenhuma confiança na carne (Fp 3:1-11). Você gostaria de ter comunhão com Paulo antes que Deus tivesse alcançado sua vida? Teria sido insuportável. Ele pensava que estava sempre certo, mais perto de Deus que qualquer outro e ele tinha o direito de te matar caso você não enxergasse da mesma forma que ele. É claro que hoje usamos muito mais as acusações e fofocas que o apedrejamento, mas buscando alcançar o mesmo resultado.
Imagine o quanto foi diferente depois que Jesus cativou Paulo com seu penetrante amor. Ele atraiu Paulo para perto de si e o transformou de alguém confiante em suas próprias capacidades, em alguém que reconhecia que apenas Jesus poderia realizar qualquer coisa que pudesse permanecer. Ele é aquele que atrai pessoas para a verdade. Ele é aquele que muda vidas. Ele conecta seu corpo de forma que alcance os propósitos de seu reino.
Paulo pode então perceber que seus melhores esforços eram nada mais que esterco, sem valor algum para a revelação da glória de Deus em si mesmo e nos outros. Ele descobriu que a justiça que o esforço humano produz é repugnante e simplesmente se encantou com a justiça que sua crescente confiança em Deus produzia.
Desde que ele perdera a confiança em sua própria carne, ele não pressionava os outros a confiarem em si mesmos. Ele sabia que tudo no reino deveria fluir a partir do agir de Deus, e nós podemos apenas corresponder a Ele, e não produzir sua vida por nós mesmos. Isto inclui a vida no corpo. Se vou aprender a compartilhar sua vida em relacionamentos significativos com outros crentes, nossa dependência deve estar nele. Não podemos fazer isso nem mesmo seguindo o que julgamos ser o padrão bíblico para a vida da igreja. Enquanto eles podem nos ajudar a entender a forma como Deus trabalha, eles não vão por si mesmos compartilhar conosco a glória da sua vida. Somente o Cabeça da igreja pode edificar sua igreja. Nós podemos apenas construir ilusões sobre isso.
Compartilhando a dependência em Deus.
Eu gastei algum tempo recentemente com um grupo de pessoas com o propósito de ser um facilitador para grupos caseiros em cada uma de suas casas. Coloquei um cenário diante deles. O que aconteceu foi que seis meses depois dois grupos estavam explodindo nos relacionamentos, com pessoas empolgadas, dois deles estavam apenas se mantendo e outros dois estavam totalmente mortos e entediantes. O que poderíamos concluir em relação aos facilitadores destes grupos e o que poderia ser feito sobre isso?
A sabedoria popular nos diria que os grupos com mais vitalidade eram conduzidos por bons líderes, e aqueles que estavam lutando eram conduzidos por líderes fracos. Mas não é assim que Deus vê isso. Alguns grupos podem parecer vitais apenas porque seus líderes são melhores em fabricar uma ilusão de vida cristã. Suas personalidades vivazes ou seus dons atraem seguidores, mas se isto reflete ou não o verdadeiro compartilhar de vida entre os crentes é outro assunto. Da mesma forma, aqueles grupos que parecem estar lutando podem ter excelentes facilitadores, mas eles estão tentando realizar algo que Deus não está fazendo.
Jesus disse que só fazia as coisas que via o Pai fazer. Infelizmente, a maneira como muitos agem na igreja hoje é através de olhar para onde o Pai parece não estar agindo e tentar fazer algo acontecer. Os resultados não deveriam nos surpreender. O esforço humano não pode produzir os frutos de Deus, mas corações rendidos podem participar em tudo o que Deus preparou para eles.
Dizer que não deveríamos colocar nossa dependência uns nos outros, não estou nos escusando de sermos pessoas dignas de confiança, irmãos e irmãs confiáveis. As mais profundas experiências de vida no corpo acontecem onde pessoas são livres o suficiente de suas próprias agendas e quebrantadas para serem confiáveis em tempos de dificuldade, genuínas para o grupo e verdadeiras com suas palavras mesmo que isto tenha um preço a pagar. Mas se você permite a si mesmo crescer dependente deles, você irá aos poucos mudar seu próprio relacionamento com Jesus. De fato, pessoas que conhecem melhor a Jesus jamais sonhariam em deixar você fazer isso. Eles irão te encorajar a manter sua dependência firmemente nele, pois esta é a única maneira de viver!
Eis a verdade: a vida no corpo genuína e autêntica é um dom que Deus nos deu, e não é algo que podemos orquestrar pelo esforço humano, mesmo seguindo princípios bíblicos. Ao invés de tentar inventar isso, estaríamos melhor se pedíssemos a Ele para nos mostrar a cada dia como Ele está nos colocando em seu corpo, com quem quer que nos relacionemos, e como poderemos encorajar a cada um a confiar em Deus com mais liberdade.
Seu trabalho é simplesmente seguir a Ele. Quando você está no corpo na forma que Deus deseja, você conhecerá a alegria de compartilhar uma dependência crescente nele, com outros membros de seu corpo.